segunda-feira, 8 de maio de 2017

UM EM CADA 3 BRASILEIROS TEM ALGUM AMIGO OU PARENTE QUE FOI ASSASSINADO

O pai do estudante Diego Cassas Ribeiro, morto aos 18 anos com quatro tiros em São Paulo, ainda não consegue entrar no quarto do filho. O crime aconteceu em 2013, no estacionamento de um McDonald's no bairro de Pinheiros. A família de Ribeiro compõe a estatística mostrada por uma pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública feita pelo Datafolha em todo o País. Um em cada três brasileiros tem ao menos um amigo ou parente que foi vítima de homicídio. A porcentagem da amostra nacional (35% equivale a cerca de 50 milhões de pessoas que confirmaram a proximidade com casos de violência. O número é maior entre a população negra (38% do que entre os brancos (27%), e entre os mais pobres (36%) do que entre os mais ricos (32%). Em 12% dos casos, o responsável pela morte foi um policial.

Nas últimas duas décadas, o Brasil somou cerca de 1 milhão de assassinados. Um dos objetivos da pesquisa era mensurar como a violência altera a rotina dos “sobreviventes”, pessoas do círculo da vítima que ainda convive com a insegurança. O levantamento integra uma iniciativa internacional denominada Instinto de Vida, que cobra a redução dos homicídios em países da América Latina. “O homicídio é uma realidade que está muito perto de nós e atinge a todos numa velocidade muita grande. Os números representam uma tragédia para o País”, disse à reportagem o diretor-presidente do Fórum, Renato Sérgio de Lima. “Também é triste notar como os crimes afetam o cotidiano dos que continuaram vivendo.”

Para Marcelo Cassas, irmão do estudante morto há quatro anos, o principal impacto foi psicológico. “Até hoje, meu pai não consegue entrar no quarto do meu irmão, nem ver fotos dele. Minha mãe sofreu muito com depressão e só agora está se livrando dos remédios”, conta. “A dor é para o resto da vida”. Condenado pelo homicídio, Caio Rodrigues está foragido e nunca chegou a ser preso. Por isso, a família da vítima também convive com a sensação de injustiça e oferece R$ 10 mil por informações que levem à captura do procurado. “A gente acaba ouvindo muito boato sobre o paradeiro”, disse Cassas. “Mas ele vai ser pego no tempo de Deus.”

Com 58.467 homicídios registrados em 2015, dado mais recente, a pesquisa aponta ainda que 71% da população considera esse patamar “muito alto”. Para 23%, o índice é “alto” e para 4%, “médio”. O Datafolha ouviu 2.065 pessoas acima de 16 anos em 150 cidades, entre 3 e 8 de abril. A margem de erro é de dois pontos. “Podemos ser julgados no futuro como monstros morais por conviver com esse sentimento de indiferença diante de 60 mil homicídios anuais”, diz Pedro Abramovay, ex-secretário nacional de Justiça e presidente para a América Latina da Open Society. Para ele, “não se indignar é ser cúmplice”. “Temos de reagir com o cérebro: observar manchas criminais, investir em inteligência policial, ter atenção à evasão escolar, trabalhar com a polícia de proximidade, controle de armamento”. (As informações do Estadão)

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