“O livro no Brasil vive seus dias mais difíceis”. Com estas palavras Luiz Schwarcz, presidente e um dos fundadores da Companhia das Letras, resumiu o momento dramático pelo qual passa o mercado editorial no país (clique aqui e saiba mais), evidenciado de forma mais contundente pelo anúncio recente de que as livrarias Cultura e Saraiva entraram com pedidos de recuperação judicial (veja aqui e aqui). “Nas últimas semanas, as duas principais cadeias de lojas do país entraram em recuperação judicial, deixando um passivo enorme de pagamentos em suspenso. Mesmo com medidas sérias de gestão, elas podem ter dificuldades consideráveis de solução a médio prazo. O efeito cascata dessa crise é ainda incalculável, mas já assustador”, comentou Schwarcz em uma carta aberta na qual propõe o apoio de toda a sociedade para recuperar o setor, que diante da crise tem causado demissão de funcionários, fechamento lojas e diminuição da quantidade de lançamentos.
Com 15 livros publicados fisicamente e online, a escritora baiana Tatiana Amaral, cujo trabalho nasceu em tempos de transição entre o mercado editorial tradicional e o das novas tecnologias, aprendeu a se adaptar às ondas e tempestades da economia. Para ela a crise não bateu forte, e pode ser uma propulsora de mudanças positivas. “Eu sempre falo que o caos é necessário, que você só consegue organizar qualquer coisa através do caos. Então, nós estamos passando outra vez por um problema”, diz a autora, que iniciou a carreira há cerca de oito anos, escrevendo fanfics de “Crepúsculo”, em blogs, e hoje tem um público consolidado no gênero de romance erótico. “A evolução é necessária, se não existisse esse medo, ninguém iria atentar pro outro lado. Por isso que eu falo que o caos é necessário, as pessoas precisam enxergar o mercado de uma outra forma, tanto o leitor, quanto o autor, as editoras, livrarias”, defende Tatiana, argumentando que diante da crise das grandes empresas, é o momento das pequenas ganharem importância.
Uma alternativa, que por sua vez também pode ter sido parte da causa da crise nas livrarias, são os livros eletrônicos e a entrada de grandes empresas internacionais no país. Para Talita Taliberti, gerente de KDP - Kindle Direct Publishing, ferramenta de auto publicação da Amazon -, o mercado do e-book tem ajudado toda a cadeia produtiva. “Com as dificuldades financeiras que as livrarias e, consequentemente, as editoras estão passando, é muito mais arriscado [investir em novos autores], primeiro porque eles não conseguem trazer todos os lançamentos, e depois também é bom pra eles [a ferramenta de auto publicação] a partir do momento que eles acabam diminuindo o risco de investir em algum novo nome”, afirma. “Com o KDP o autor tem opção de ir pro mercado, publicar sua obra, atingir leitores, mostrar seu trabalho, e é até benéfico para a editora, que depois de ver que esse autor tem sucesso, tem leitores, que a obra tem demanda, aí sim pode valer a pena a própria editora usar a ferramenta pra identificar talentos e investir em nomes que tenham um potencial maior”, argumenta.
A escritora baiana Tatiana Amaral alerta, no entanto, ser irreal a ideia de que o e-book substituiria o livro físico. “Ele está ganhando o mercado de forma forte e tudo, mas não está sendo como as pessoas acreditavam que seria”, diz Tatiana, que após lançar na internet seu primeiro sucesso, “Função CEO”, com três milhões de leituras, firmou um contrato com a editora Pandorga, no qual também tem a liberdade de publicar o livro digital de forma independente pela Amazon. “Quando você compara o crescimento dos dois, você percebe que o físico cresceu e o e-book caiu. Talvez isso ainda não seja sentido pelos autores, pelos leitores, mas já é uma realidade”, explica a autora baiana, que prefere seguir investindo ao mesmo tempo nos dois formatos. Atualmente Tatiana se prepara para relançar a obra “Traições”; entregou à editora o segundo livro da série “Mulheres do 129”; e está trabalhando em “Sem Perdão”, publicação que segundo ela ainda não sabe muito “para que lado vai”.
O fato é que hoje os novos autores - e até os já conhecidos - têm mais alternativas, podendo transitar pelo digital e o papel. Como exemplo disto, a gerente da Amazon citou o professor, escritor e filósofo Mauro Sérgio Cortella, que este ano, mesmo tendo contrato com uma editora, relançou na plataforma de autopublicação da empresa sua primeira obra, “Descartes: A Paixão pela Razão”. “O livro estava fora de circulação há 15 anos e não faria sentido voltar para as editoras. Com o KDP, por ser digital, independente e rápido, ele pôde devolver a obra para os leitores”, disse Talita. (As informações do BN)
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