A participação do comandante da lancha Cavalo Marinho I na tragédia de Mar Grande é ponto de discordância entre a Marinha do Brasil e a Superintendência Regional do Trabalho na Bahia (SRT-BA), órgão do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Para o primeiro, o tripulante é responsável pelo acidente. Já a superintendência divulgou um relatório nesta segunda-feira (19) em que afirma que o marinheiro foi uma vítima das más condições de trabalho.
Em laudo técnico apresentado em janeiro, a Marinha apontou o comandante Osvaldo Barreto, 52 anos, como um dos responsáveis da tragédia que deixou 19 mortos. Um engenheiro técnico e o proprietário da empresa CL Transporte Marítimo, dona da Cavalo Marinho I, também foram responsabilizados.
Já o relatório divulgado na manhã desta segunda (19) afirma que os tripulantes não contavam com equipamentos adequados para trabalhar e coloca o comandante como vítima. Segundo o coordenador regional de inspeção do trabalho portuário e aquaviário da SRT-BA, Palmério Queiróz, eles não faziam o treinamento previsto na própria norma da Marinha e, por isso, não estavam preparados para lidar com a situação de pânico.
"O que deduzimos é que a condição dele (comandante) prevê uma condição adversa de navegação é muito limitada, ou seja, é como se você olhasse para o horizonte e dissesse 'eu vou navegar'. Não existe nem uma biruta para saber a posição do vento. O sistema não oferece para ele essa orientação, e ele tem que deduzir sozinho se vai ou não", comentou Palmério.
O documento apontou que faltou fiscalização para evitar a tragédia. De acordo com o relatório, vários órgãos são responsáveis, direta ou indiretamente, pelo acidente. Segundo os auditores, a empresa dona da lancha deixou de cumprir alguns pontos do contrato, e os órgãos competentes não fiscalizaram. Marinha, Agerba, e Ministério Público Estadual (MP-BA), além da empresa dona da lancha, foram citados.
Elaboração
O coordenador de investigação de acidentes, Anastácio Gonçalves Filho, contou que o relatório da STR-BA foi elaborado depois de passar quatro meses ouvindo sobreviventes e testemunhas do acidente, além de analisar documentos produzidos por outros órgãos.
"Temos que cobrar a prevenção, e a prevenção ocorre a partir desses fatores. Não estamos fazendo críticas a outros relatórios, mas estamos vendo a complexidade do sistema, e apontando onde ele precisa melhorar. Esse é o ponto alto do nosso relatório: nós temos que treinar as pessoas, renovar frota, e fazer a dragagem, porque são esses os fatores", comentou o coordenador de inspeção. "As circunstâncias que levaram ao acidente ainda estão lá. É importante que os órgãos responsáveis não se sintam atingidos ou criticados, mas que façam a sua parte", complementou Palmério.
Os auditores disseram também que encontraram apenas uma irregularidade trabalhista em relação aos tripulantes das embarcações que fazem a travessia entre Salvador e Mar Grande. Alguns deles estavam com cargas excessivas de trabalho, por isso, a STR-BA vai autuar algumas das empresas.
Tudo igual
Quase sete meses após a tragédia, os auditores disseram que nada mudou em relação ao serviço que era desenvolvido antes do acidente. "Com exceção da orientação aos passageiros, a realidade é a mesma. A única coisa que mudou foi a orientação. A implementação de informações meteorológicas, por exemplo, a gente não viu. Em princípio, permanece tudo na mesma", afirmou Queiróz.
A Marinha apontou três responsáveis pela tragédia: o engenheiro técnico e o dono da empresa, por negligência, além do comandante da embarcação, por imprudência. Além disso, foi indicado que a embarcação não tinha condições de navegabilidade e que havia lastros (pesos) soltos no convés.
Nesta segunda (19), o delegado Ricardo Amorim, titular da 24ª Delegacia (Vera Cruz), afirmou ao CORREIO que já avaliou o laudo da Marinha, divulgado em janeiro, e fez o relatório final da investigação policial. Ele não quis, contudo, adiantar as conclusões do inquérito conduzido pela Polícia Civil, que deve ser enviado à Justiça ainda esta semana. (As informações do Correio)
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