O deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ), eleito para seu terceiro mandato, vai desistir de assumir o cargo e deixar o Brasil. A informação foi divulgada pela Folha de S. Paulo, que entrevistou o político baiano. De férias fora do país, o parlamentar informou que não pretende retornar e seguirá com sua carreira acadêmica - ele é formado em Jornalismo pela Universidade Federal da Bahia (Ufba).
Wyllys vive com escolta policial desde que sua colega de partido Marielle Franco foi assassinada, em março do ano passado. Na entrevista, ele lembra de uma conversa que teve com Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai. "O Pepe Mujica, quando soube que eu estava ameaçado de morte, falou para mim: 'Rapaz, se cuide. Os mártires não são heróis'. E é isso: eu não quero me sacrificar",diz.
Ele fala também que as informações recentes de que o ex-PM que é suspeito de chefiar a milícia responsável pela morte de Marielle estaria ligado ao senador eleito Flávio Bolsonaro também influenciaram a decisão. "Me apavora saber que o filho do presidente contratou no seu gabinetea esposa e a mãe do sicário", diz. "O presidente que sempre me difamou, que sempre me insultou de maneira aberta, que sempre utilizou de homofobia contra mim. Esse ambiente não é seguro para mim", acredita.
Jean foi o primeiro parlamentar assumidamente gay a levar questões da agenda LGBT ao Congresso Nacional. Nas redes sociais, ele é dos alvos preferenciais de grupos conservadores. Ele diz que a decisão não foi fácil e que ainda não sabe ao certo para onde vai, ironizando: "Eu acho que vou até dizer que vou para Cuba". O político fez uma publicação no Facebook. "Quero cuidar de mim".
Decisão
Na entrevista, o político diz que já pensava em abandonar a vida pública desde a morte de Marielle. "Nunca achei que as ameaças de morte contra mim pudessem acontecer de fato. Então, nunca solicitei escolta. Mas, quando rolou a execução da Marielle, tive noção da gravidade", diz.
Ele conta que era muito xingado e empurrado, mesmo com presença de seguranças ao seu lado. Wyllys diz que a campanha presidencial que culminou com a eleição de Jair Bolsonaro agravou a situação. "Eu não era candidato à Presidência da República, mas a principal fake news me envolvia —o kit gay. Foi uma fake news produzida em 2011 e atribuída a mim", relata. Ele diz que em julho, quando ouve um eclipse lunar, ele não pode sair de casa para ver o fenômeno, o que o abalou e resultou em crise de choro. "Não posso estar no meu país e não poder descer para ver um eclipse lunar sem ser insultado por pessoas que acham que sou pedófilo, que quero homossexualizar crianças".
O político diz que não desistiu de se candidatar porque "não era uma questão só minha, envolvia o partido" e que já estava no fluxo do seu trabalho, por isso nem chegou a cogitar. O atentado a Bolsonaro "atiçou a violência contra mim nos espaços públicos" ainda durante a eleição.
Wyllys cita a violência contra LGBTs no Brasil, que tem "crescido assustadoramente", como um motivo para deixar o país. "Não foi a eleição dele (Bolsonaro) em si. Foi o nível de violência que aumentou após a eleição dele. Para se ter uma ideia, uma travesti teve o coração arrancado agora há pouco. E o cara (o assassino) botou uma imagem de uma santa no lugar. Numa única semana, três casais de lésbicas foram atacados. Um deles foi executado. A violência contra LGBTs no Brasil tem crescido assustadoramente".
A vaga de Jean ficará com o vereador carioca David Miranda (PSOL-RJ). Miranda também é ativista LGBT e casado com o jornalista Glenn Greenwald, vencedor do Prêmio Pullitzer em 2014 por sua reportagem sobre programas de vigilância secretos dos Estados Unidos. (As informações do Correio)
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