Natural do município de Castro Alves, no Recôncavo Baiano, a doméstica Maria Cleuza Conceição, 57 anos, acreditava que poderia melhorar de vida em Salvador, onde veio viver há mais de 25 anos. Moradora da região do Bate-coração, em Paripe, ela morreu atropelada por um carro após descer de um ônibus, na manhã de terça-feira (29), no bairro do Comércio, na capital baiana. O motorista do ônibus teria parado fora do ponto.
O corpo da doméstica, que estava a caminho do trabalho no momento do acidente - flagrado por uma equipe do CORREIO -, foi enterrado na manhã desta quinta-feira (31), no Cemitério Municipal de Plataforma, no Subúrbio Ferroviário. Cerca de 60 pessoas prestaram as últimas homenagens a Cleuza.
Em conversa com o CORREIO, a família da vítima defendeu o motorista do carro, um automóvel GM Celta (JRT 2183), cor cinza, que atropelou a doméstica. Parentes atribuem a culpa do acidente ao rodoviário que conduzia o ônibus do qual Cleuza havia acabado de desembarcar.
"O rapaz [motorista do carro] está tão triste quanto a gente. Ele deu apoio, ficou no local até o socorro chegar. Mas o motorista do ônibus, ele tem culpa, não podia ter parado fora do ponto. [O acidente] podia ter sido evitado", disse o ex-marido da vítima, o porteiro José Pereira, 56.
Pai do único filho de Maria, o ex-marido contou que o rodoviário não parou e sequer procurou a família. "Não fomos procurados por ninguém. Apenas o motorista do carro que a atropelou nos procurou e foi sincero, está muito sentido", pontuou.
Titular da 3ª Delegacia, o delegado Victor Spinola informou ao CORREIO que o rodoviário foi identificado e ouvido nesta quinta-feira (31). "Ele está bastante consternado com a situação. Vamos investigar. Se ficar comprovada a culpa, o motorista do ônibus pode responder por homicídio culposo em decorrência da direção de um veículo automotor, que é um crime previsto no código de trânsito", explica.
A pena para este crime varia de dois a três anos de prisão, conforme Spinola. O motorista do carro que atropelou a doméstica deve ser ouvido até esta sexta-feira (1º).
Dor
Separados há 17 anos, José e Cleuza se casaram de papel passado e permaneceram juntos por 12. Filho único da doméstica, o comerciante Edmilson Alencar, 34, demonstrou força e confortou o restante da família durante o enterro.
Em silêncio, ele abraçava a cada uma das quatro tias presentes no sepultamento da mãe. Bastante abalada, a dona de casa Maria das Graças, irmã de Cleuza, chorou durante toda cerimônia. Inconformada, ela gritava e pedia para que a irmã levantasse do caixão. "Levanta daí, minha irmãzinha", dizia ela, apontada pela família com a irmã mais próxima da doméstica.
A cada condolência prestada, Edmilson respondia com um aperto de mão e balançava a cabeça em forma de agradecimento. A aparente serenidade do filho, para José, escondia uma tristeza profunda. "Meu filho está destruído por dentro. Desde o ocorrido eu tô colado com ele, é de fazer dó", disse ele, acrescentando que continuava tendo um bom relacionamento com a ex-esposa.
Por volta de 11h, a minutos de enterrar o corpo da mãe, o comerciante chamou o pai e organizou uma roda de oração e louvores. Cuisadosamente, ele observou o corpo pela última vez e, em seguida, fechou a tampa do caixão. Cleuza, que era evangélica, morava sozinha em uma casa alugada. Além do filho, ela deixa três netos, sendo dois meninos e uma menina.
A alegria da doméstica foi lembrada pela sobrinha, a pequena Samara de Jesus, 13. Espontaneamente, a menina se aproximou da equipe de reportagem e falou sobre a saudade da tia. "Eu vou sentir muito a falta dela, principalmente das nossas brincadeiras. Ela era muito legal", disse. (As informações do Correio)
Nenhum comentário:
Postar um comentário