terça-feira, 19 de setembro de 2017

COM SAÍDA DO CENTRO DE CONVENÇÕES DO STIEP, EMPRESÁRIOS AMARGAM PREJUÍZO

Abrir um hotel ao lado de um equipamento como o Cento de Convenções, que promovia congressos que lotavam a rede hoteleira, parecia uma oportunidade enorme para a empresária Lígia Uchôa, 46 anos. A gestora do Salvador Mar Hotel, localizado a cerca de seis quilômetros do CCB, explica que apenas adquiriu a estalagem pela promessa de uma ótima oportunidade.

“Nós viemos para cá em fevereiro de 2016 porque sabíamos que o novo Centro de Convenções seria entregue em setembro. Aí aconteceu que um pedaço do prédio caiu e ele veio a ser fechado definitivamente. Eu vim para cá para me beneficiar dos eventos promovidos, se soubesse que estaria fechado, nunca teria vindo”, declarou.

O Salvador Mar Hotel possui 69 leitos. “O que posso dizer é que eu nunca tive 30% de ocupação no hotel”, disse Lígia. A empresária conta que já investiu R$ 500 mil no empreendimento e que chegou a ter que pedir empréstimo no banco e vender seu carro e imóvel próprios para investir no hotel.

O quadro de funcionários também teve que ser reduzido com a menor procura de hóspedes. “Foram nove demissões. Hoje, a gente conta com 19 funcionários. Conseguimos diminuir cargos de camareira, portaria, mensageiro, limpeza e recepção. Estamos com o mínimo que podemos ter para passar o verão. Mas depois disso, ainda há o risco de ter mais demissões”, lamenta Lígia.

A saída encontrada por ela foi fazer parcerias com empresas que trazem funcionários de outros estados. “A gente faz parcerias com agências de turismo e com empresas para que esses funcionários, quando venham trabalhar em Salvador, se hospedem aqui no hotel”, explicou Lígia, que afirmou ter esperanças com a reabertura do Aeroclube no local. “A gente hospeda quem vier de fora para construir, depois acabamos recebendo essa demanda”, disse. A empresária faz críticas a administração do turismo pelo atual governo do estado. “Não entendi essa ideia de levar o aparelho para perto do aeroporto. Isso vai matar o turismo da cidade”, opinou.

O tradicional restaurante Boi Preto tinha um aumento de 30% no movimento em dias de congresso no CCB. “Com o fechamento, perdemos esses clientes e também percebemos uma queda de clientes advindos de turismo dos hotéis”, conta o maître Djalma Lima, de 39 anos, que trabalha no local há sete anos. “Nós temos uma clientela fixa, que frequenta o restaurante cerca de duas a três vezes na casa. Então, acaba que não recebemos uma influência tão direta assim”, explica.

Insegurança
Outra variável que influencia na hospedagem do hotel e na escolha do restaurante é a segurança do entorno. “A gente fecha a porta 18h e tivemos que contratar um segurança para o período da noite. Já perdemos muitos hóspedes por causa disso e sempre alertamos aqueles que ficam aqui para não saírem depois de certo horário”, explicou a dona do hotel.

O sentimento de insegurança é compartilhado por moradores e trabalhadores da região. Para o porteiro Antônio Fernando, 62 anos, que trabalha no Edifício Bela Vista Long Stay há sete anos, o fechamento do Centro de Convenções deixou a área mais perigosa. “A circulação do local caiu muito e a iluminação também. O que melhorou por agora foi a instalação do supermercado Hiper Ideal que trouxe um maior movimento pra cá”, explicou.

O porteiro conta, ainda, que o prédio era utilizado por congressistas, que alugavam apartamentos para temporada. “Nessas épocas, o condomínio era mais frequentado, eles reservavam para o período do congresso”, conta.

Desde o incêndio a um ônibus próximo ao CCB, no dia 10 de agosto deste ano, o sentimento de insegurança cresceu mais ainda. Os rodoviários que tinham o local como ponto final trocaram de lugar: agora estão indo para o fim de linha do Stiep. “Estamos entregues a traças e baratas”, protestou um motorista da linha Capelinha – Centro de Convenções, que não quis se identificar.

Até a barraquinha que fica há dois anos próximo ao ponto de ônibus do local e vende salgados sentiu o fechamento do Centro de Convenções com a queda de 50% do arrecadamento. “Antes a gente atendia o pessoal que vinha para o Congresso. Depois nosso público virou os rodoviários. Agora que eles saíram, a gente vai atender a quem?”, protestou a mulher de 41 anos, que afirmou não se sentir confortável em se identificar por conta de represálias. (As informações do Correio)

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