Preso há quase 11 anos no sistema prisional federal, o traficante Márcio dos Santos Nepomuceno, o “Marcinho VP”, negou, em entrevista ao portal UOL, ser o chefe da facção Comando Vermelho (CV) e afirmou que a existência do tráfico está ligada ao financiamento de campanhas políticas. "O tráfico de drogas não acaba porque financia campanhas políticas no Brasil", declarou ele, que defende a legalização da maconha. "O tráfico é nocivo e funesto, mas a corrupção é o crime que mais mata no Brasil”. Ainda sobre a ligação entre o tráfico e a política oficial, Marcinho VP acusa o ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) de ser “o cacique-mor da maior organização criminosa do Rio de Janeiro” e “o maior charlatão” que teve o “desprazer de conhecer”.
O traficante afirma ter prestado favores eleitorais para o peemedebista em 1996, durante a campanha pela prefeitura do Rio de Janeiro, e não ter obtido retorno e atribui também a Cabral a sua ida para a Penitenciária Federal de Mossoró, onde atualmente está preso. "Ele esteve no meu camarote, comeu, bebeu, me elogiou. Ajudei ele com uma equipe de cabos eleitorais. Não ganhei um tostão", diz. "Dei uns 50 mil votos a ele lá do Complexo do Alemão", completa. O advogado do ex-governador, Rodrigo Henrique Roca Pires, nega ter ocorrido um encontro entre seu cliente e o traficante. "A trajetória carcerária dele revela que essa é uma tentativa tosca de enlamear a honra do ex-governador com objetivo de promover esse livro. Cabral foi o governador do Rio de Janeiro que mais enfrentou o tráfico de drogas", alega o advogado. Além de ter negado se chefe do CV, Marcinho VP afirma que não tem envolvimento com a guerra de facções dentro dos presídios em todo o país.
"Nós respeitamos a todos, sem exceção, independente de grupo antiopressão. Somos da paz", afirma. "Um de nossos de lema desde o princípio [do Comando Vermelho], é Paz, Justiça e Liberdade. Se essa rivalidade está ocorrendo, não chegou ao meu conhecimento. E é lamentável, os próprios presos se destruindo. Preso oprimindo preso". O traficante também diz desconhecer planos do PCC para tomar as favelas do Rio de Janeiro e aproveitou para fazer uma análise sobre o projeto das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP).
"Querendo ou não, o crime exerce um papel social muito grande nas comunidades. A UPP foi apenas uma ocupação policial. Tudo o que crime proporcionava às comunidades, o Estado tinha que ao menos repor. Por exemplo, cesta básica, remédios, médicos, internação das pessoas que ficam doentes. Todo o tipo de ajuda. O crime ocupa o vácuo deixado pelo Estado”, avalia. "O crime não é contrário a que houvesse ocupação social pelo Estado. O que é bom para o povo é bom para nós, nós é povão, nós é favelado. As pessoas da comunidade são meus vizinhos, me viram crescer, eu vi essas mesmas pessoas crescerem. A comunidade não vê a gente como criminoso. A convivência é normal, não existe conivência”, acrescenta.
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