O Palácio do Planalto negou que o presidente Jair Bolsonaro teve intenção de "criticar o carnaval de forma genérica" ao compartilhar um vídeo obsceno e associá-lo aos blocos de carnaval. Em nota, o Planalto afirma que Bolsonaro quis "caracterizar uma distorção clara do espírito momesco, que simboliza a descontração, a ironia, a crítica saudável e a criatividade da nossa maior e mais democrática festa popular".
No texto, a assessoria do Planalto diz que o vídeo postado na rede social do presidente possui cenas que escandalizaram não só Bolsonaro, mas grande parte da sociedade. "É um crime, tipificado na legislação brasileira, que violenta familiares e as tradições culturais do carnaval", diz outro item da nota sobre o vídeo.
Na publicação, divulgada na terça-feira, Bolsonaro afirmou que "é isto que tem virado muitos blocos de rua no carnaval brasileiro". E recomendou que seus seguidores comentassem e tirassem suas conclusões.
Hoje, o presidente fez nova publicação na qual questionou "o que é Golden shower?", que significa a prática de envolver urina na relação sexual. A nota foi divulgada após forte reação negativa, inclusive da imprensa internacional.
Mourão evita comentar vídeo: "Não sou ventríloquo do presidente"
Fugindo da postura usual, o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, evitou comentar a polêmica em torno do vídeo compartilhado pelo presidente Jair Bolsonaro. "Sem comentários", reagiu Mourão sobre o assunto em três momentos. Ele afirmou, ainda, que não é "ventríloquo" do presidente. "Não vou comentar o que eu não sei. Não sou ventríloquo do presidente", reagiu.
Diante da insistência de jornalistas, Mourão minimizou o impacto negativo das publicações feitas por Bolsonaro. E negou que o caso possa respingar na tramitação de propostas relevantes no Congresso, como a reforma da Previdência. "Isso morre amanhã. Está morto amanhã. Tudo passa", disse Mourão.
Questionado sobre o impacto da série de polêmicas no início do governo e se não poderia aconselhar o presidente sobre o assunto, ele disse que não cabe o aconselhamento neste momento. Ele destacou que os dois possuem idades semelhantes e que são contemporâneos da academia militar.
ABI repudia postagem
A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) divulgou uma nota repudiando a atitude do presidente ao postar o vídeo e cobrou que ele desça "de vez do palanque". Leia a nota na íntegra:
"A Associação Brasileira de Imprensa condena com veemência a postura do Presidente Jair Bolsonaro em compartilhar vídeos pornográficos de integrantes de um bloco carnavalesco de São Paulo através de sua conta pessoal no Twitter. Ao exibir cenas deploráveis por intermédio dessa plataforma, com o objetivo de criticá-las, Sua Excelência acabou por viraliza-las ainda mais pelas redes sociais, produzindo repercussão oposta ao que preconiza o bom senso.
Esse episódio esdrúxulo, que permite diferentes leituras, revela que o Presidente continua pautando-se mais pelo fígado do que pela razão e a lucidez. No momento em que postou esse vídeos, Jair Bolsonaro violou regras estabelecidas pelo Twitter sobre política de privacidade e os termos que regem o comportamento dos seus usuários, além de afrontar a legislação em vigor.
Não pode um Presidente da República manifestar-se também de forma preconceituosa contra o Carnaval, demonizando a maior festa popular do País, através de um ato libidinoso isolado. Ao reagir de forma biliosa, como fez Sua Excelência, poderá ser punido pelo próprio Twitter.
Jair Bolsonaro, corre o risco de ser ainda responsabilizado por improbidade administrativa como define a Lei 1079 da Constituição Federal. Ela estabelece, entre outros crimes contra a administração, “proceder de modo incompatível com a dignidade, a honra e o decoro do cargo”.
O exercício da Presidência da República exige acima de tudo equilíbrio, sensibilidade, moderação de linguagem, majestade e altivez.
Os auxiliares mais próximos de Sua Excelência devem convencê-lo a descer de vez do palanque, informando-o que campanha eleitoral já terminou. Esperamos também que o alertem, para o bem da Nação, de que twittar não é o mesmo que governar". (As informações do Estadão)
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