sábado, 9 de dezembro de 2017

CHEIA DE FÉ: DEVOTOS CONTESTAM ESVAZIAMENTO DA FESTA DA CONCEIÇÃO DA PRAIA

Aqui e ali, comentava-se: “A tradição está acabando”. “A festa está esvaziada”. “Não tem mais apelo popular”. Certos ou errados, esvaziada ou não, a festa que rende homenagens à Nossa Senhora da Conceição da Praia mostrou ontem que resiste. E resiste firme. Segundo a irmandade responsável pelos festejos, mais de 20 mil pessoas participaram da procissão que sai da basílica, dá a volta no Comércio e retorna ao templo.

Vá dizer a Davi Sampaio, presente na Conceição há 32 anos, que a força popular está acabando. Vestido de Filho de Gandhy, ele diz que não sente muita diferença em relação ao passado. “A festa resiste, sim. Talvez hoje tenha um pouco menos porque o tempo está chuvoso. Quer dizer, tem muitas nuvens”, observou. O próprio Davi, aliás, personificava o caráter sincrético da festa, caráter este que muitos sugerem também estar acabando.

No sincretismo religioso, Conceição da Praia é Oxum. “Esse sincretismo ainda existe, sim. Quem se envolve com a mãe Oxum, de uma forma ou de outra, também é devoto de Nossa Senhora da Conceição. Oxum é Conceição. As duas são mães. Tem muita gente aqui que exalta as duas”, acreditava Davi, integrante de um terreiro na cidade de Cachoeira. “Lá a imagem de Oxum é coberta durante três dias nesse período”, explica.

No meio da multidão que seguia o cortejo, membros da Irmandade do Santíssimo Sacramento de Nossa Senhora da Conceição da Praia e de outras irmandades, além do reitor da basílica, Adilton Pinto Lopes, até enxergavam uma queda na quantidade de público, mas não no que eles chamaram de “qualidade”. “Conceição é questão de fé. Anos atrás tinha mais celebração profana. Essa, de uns anos para cá, diminuiu. Mas, a fé permanece”, acredita Israel Barbosa, militar aposentado e integrante da Irmandade da Conceição.

“Tem mais de 20 mil pessoas aqui. Se isso é estar esvaziado”, afirma Dione Costa, juiz da Irmandade de São José do Corpo Santo, que também participa da festa. Com a experiência de mais de 30 anos de Conceição da Praia, ele diz que a tradição segue firme. “Sempre foi uma festa mais religiosa, apesar de também muito popular. Mas o que importa é que a fé transborda”, afirmou Dione.

Padre Adilton também acredita que a religiosidade se renova. E que a queda de público vem do lado profano. “Tivemos uma queda de quantidade, mas não de qualidade. Prova disso são as novenas que antecedem a festa e a própria participação na igreja e no cortejo”, diz padre Adilton, comemorando a liberação de uma verba do governo do estado para a limpeza da fachada da igreja. “Tem 50 anos que a nossa fachada não é limpa. Estamos muito felizes”.

Missas e cortejo
Como sempre, a Basílica de Nossa Senhora da Conceição da Praia abriu suas portas cedo, às 4h30. Às 5h, já era realizada a primeira missa, assim como às 6h e às 7h. Às 8h, a missa solene e mais importante do dia, foi celebrada do lado de fora pelo arcebispo de Salvador e primaz do Brasil, Dom Murilo Krieguer. Enquanto isso, milhares lotavam a igreja e tentavam se aproximar do altar, onde colocavam seus nomes ou escreviam bilhetes em fitas brancas. "Agradar à Maria é agradar a Deus. A festa de Maria é a festa de Deus também", disse Dom Murilo.

Às 9h30, a procissão começou a deixar a igreja. As imagens do Menino Jesus, de Santa Bárbara e de São José antecederam a imagem da Conceição. A imagem de São José, aliás, costumava sair do casarão ao lado da basílica, na capela de São Pedro Gonçalves, onde funciona a irmandade de São José do Corpo Santo. Mas o prédio está em reforma. “Dessa vez ele acompanhou a mãe na saída. Em breve, se Deus quiser, terá de volta o seu lugar”, disse Dione Santos, da irmandade de São José.
Eram 9h32 quando Nossa Senhora da Conceição começou a se movimentar vagarosamente, carregada por militares voluntários da marinha. Pétalas de rosas foram lançadas do alto ao mesmo tempo que celulares eram sacados dos bolsos. Como uma estrela pop, fotos e vídeos registravam a saída da padroeira. Animada por um carro de som, a multidão seguiu o cortejo, com milhares de pessoas ao mesmo tempo desejando tocar seu andor. Papéis picados coloridos eram jogados dos prédios, do Mercado Modelo, do alto do Elevador Lacerda, inaugurado no dia da Conceição. (As informações do Correio)

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