O Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) investiga as circunstâncias que levaram o estudante Inácio de Jesus, 16 anos, à morte no último dia 6, em Lauro de Freitas, Região Metropolitana de Salvador. O rapaz relatou à mãe ter sido torturado por PMs, no dia 27 de abril, em um matagal no bairro de Itinga, após ele ser capturado junto com um amigo por policiais militares. As agressões teriam sido cometidas por seis PMs, que continuam trabalhando normalmente.
Apesar da idade, Inácio ainda chegou a ficar preso por uma noite, após os PMs atribuírem a ele a posse de uma pistola, encontrada em sua casa.
Dias depois das agressões, ele reclamou de dificuldades para respirar, ainda chegou a ser internado no dia 2 de maio, mas veio a óbito quatro dias depois com uma lesão na traqueia, que afetou o esôfago e comprometeu os pulmões. Apesar de ameaçada pelos policiais, que disseram saber onde ela morava, a mãe do estudante, uma desempregada de 35 anos que não teve o nome divulgado, levou o caso até a Corregedoria da PM.
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou, neste domingo (22), que “se for comprovada a participação dos militares, os envolvidos responderão a um Inquérito Policial Militar, podendo ser expulsos da corporação, além de um inquérito na Justiça”. A pasta destacou ainda que “tem investido em capacitação” e que “os servidores que atuam fora das leis estão sendo exemplarmente punidos”.
Tortura - Uma reportagem do jornal El País, publicada neste sábado (21), traz o relato da mãe de Inácio. Segundo ela, o jovem sofreu várias tentativas de asfixia com uma sacola plástica, recebeu golpes no corpo todo sem marcas externas e foi desafiado a escolher entre um pedaço de madeira fino e outro mais grosso para ser abusado pelos policiais. No dia 27, Inácio voltava do almoço em direção ao lava jato do tio, onde trabalhava, quando foi capturado por três PMs. Ele estava na garupa da moto de um amigo, quando foi parado por uma viatura, mas não foi conduzido à delegacia. Os dois foram levados para um matagal, no entorno do presídio Lauro de Freitas, no bairro de Itinga, onde foram torturados durante horas.
Após o interrogatório violento, Inácio e o amigo foram levados até em casa. Nessa hora, a segunda viatura, com os outros três policiais, passou a acompanhá-los, conforme a denúncia que é investigada. Sem mandado judicial, procuraram armas e drogas que, segundo seus familiares, não existiam. Ainda assim, os policiais disseram ter encontrado uma pistola e com ela pegaram Inácio para levá-lo, quatro horas depois da abordagem, até a delegacia. Ele foi algemado a uma barra de ferro e obrigado a ficar de pé. Apesar da idade, passou a noite preso.
Atendimento - Segundo a denúncia, após ser liberado, o adolescente, que estudava à noite, relatou à mãe sua única passagem por uma delegacia. “O menino andava torto, tinha as pernas inchadas de ter passado a noite inteira de pé, e dois dias depois começou a passar mal, estava com falta de ar. Levei-o ao médico”, disse a mãe ao El País. No primeiro atendimento em um posto de saúde, Inácio recebeu remédio e foi dispensado, mas nos dias seguintes não conseguia respirar. No último dia 2, ele foi internado em um hospital e morreu quatro dias depois.
O médico, de acordo com a família, explicou que o menino tinha uma lesão na traqueia, que tinha afetado o esôfago e comprometido os pulmões, lesões supostamente associadas às tentativas de asfixia que Inácio sofreu. O laudo que explicará as causas da morte ainda não está pronto. (as informações do Correio)
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