Abafado para estacionar, o motorista olha em volta e não enxerga nem vaga, nem guarda de trânsito. Como não tem nenhuma pessoa olhando, decide parar em qualquer lugar. O ‘jeitinho’ parece que deu certo, até que num belo dia o registro fotográfico da ação chega na caixa de correios. Boa parte das 5.815 multas por estacionar em local irregular, em Salvador, no primeiro semestre, tem roteiro semelhante.
E elas correspondem à grande maioria - 72% - das 8.171 registradas nos mesmos meses deste ano na cidade, segundo a Superintendência de Trânsito de Salvador (Transalvador). O total de multas, no primeiro semestre de 2017, é 96% maior do que as registradas no mesmo período do ano passado. As irregularidades no trânsito de Salvador foram flagradas pelas 338 câmeras instaladas na capital – em 2016, havia cerca de 300. O código de trânsito prevê 20 situações diferentes que representam irregularidades na hora de parar o carro na rua.
Segundo o superintendente da Transalvador, Fabrizzio Muller, o aumento se deu por conta da ampliação de câmeras nas vias da cidade. “A resolução que permite o videomonitoramento é de 2015. No ano passado, tínhamos menos câmeras e, consequentemente, poucos registros”, disse Muller ao CORREIO.
Outro fator que favoreceu o aumento das notificações foi a capacitação dos fiscais da central de monitoramento. De acordo com o órgão de regulamentação de trânsito, em 2016, os agentes estavam em processo de treinamento e não possuíam a devida expertise para a função, que foi adquirida com o passar do tempo.
A superintendência informou também que entre os locais com maior número de flagrantes estão as avenidas Sete de Setembro, ACM, Joana Angélica, Rua Carlos Gomes, Tancredo Neves, Vasco da Gama, Garibaldi, Rua Osvaldo Cruz, Cajazeiras X (Rotatória da Feirinha) e Avenida Juracy Magalhães.
Rapidinho
O açougueiro Gilvan Sampaio, 48 anos, contesta a multa de R$ 195 e os cinco pontos a menos na carteira recebidos por estacionar em um local de Zona Azul fora do horário permitido. Na manhã de ontem, ele foi até o pátio da Transalvador, nos Barris, acertar as contas.
“Eu fui levar minha filha no Campo Grande e parei rapidinho próximo ao Forte de São Pedro. Paguei os R$ 3 do estacionamento e recebi dias depois a multa em casa”, explicou ele. Gilvan conta que estacionou o carro às 9h do dia 11 de julho, uma terça-feira - a Transalvador autoriza os motoristas a usarem as vagas ao longo da via pública de segunda a sexta-feira, das 7h às 19h, e aos sábados, das 7h às 13h.
21 multas
Quem também não gostou nada da ideia de ter que mexer no bolso para quitar uma multa por estacionamento irregular foi a industriária Nelma Maria de Oliveira, 60. Ela foi punida por dois agentes de trânsito após parar em cima da calçada. “Foi coisa de segundos. Parei apenas para meu filho descer do carro. Foi tão rápido que, assim que vi a Transalvador, saí do lugar”, justifica.
A aposentada Luzinete de Oliveira, 64, conseguiu a façanha de colecionar em dois anos 21 multas de trânsito. Ela só ficou ciente das irregularidades, no entanto, quando teve que pagar o IPVA do carro, quinta-feira. Assustada com a quantidade de multas, ela foi à Transalvador entender o que tinha acontecido. “Não lembro de ter cometido nenhuma dessas infrações. Sempre fui uma boa motorista. Se foi difícil conseguir dinheiro para o IPVA, imagina pagar isso tudo?”, lamentou.
As multas acumuladas por Luzinete totalizam R$ 3 mil. São 14 infrações do ano passado e 7 deste ano. Por estacionar em locais proibidos ou dirigir acima do limite de velocidade. “As multas não chegaram na minha casa. Não entendo como isso aconteceu”. Apesar dos protestos, durante a realização desta reportagem, a equipe do CORREIO flagrou carros sendo rebocados por guinchos da Transalvador no Pelourinho por estacionarem em local proibido. (As informações do Correio)
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