Depois de três anos trabalhando no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) de Salvador, o clínico e ortopedista L.P., 29 anos, foi “batizado” e recebeu sua primeira ameaça de morte. Os momentos de tensão foram vividos, por volta das 20h do dia 12, no Conjunto Arvoredo, no bairro de Tancredo Neves, quando ele e a equipe chegaram ao local para socorrer um homem que tinha sido baleado dentro de um carro.
Por questões de segurança, esse tipo de ocorrência – que envolve agressão por arma de fogo – só é atendido pelas equipes do Samu com a presença da Polícia Militar. A mudança no protocolo é de setembro do ano passado, quando uma ambulância foi interceptada e o paciente executado a caminho do hospital. O procedimento causa, de acordo com o coordenador do Samu em Salvador, Ivan Paiva, atrasos de, em média, cinco minutos na resposta aos chamados – alvo de queixas de familiares de vítima e de quem aciona o socorro.
Para o médico L. o pedido de socorro já chegou com a informação de que a PM tinha sido acionada. “Para azar nosso, chegamos antes da polícia”, lembra, trêmulo, o profissional ao recordar o episódio. Segundo ele, assim que a equipe chegou, um grupo retirou a vítima de dentro do carro onde tinha acontecido o crime.
“Não deixaram a gente fazer o procedimento, a gente teve que colocar a pessoa dentro da ambulância para tentar prestar o atendimento. A gente não sabia se a pessoa que tinha atirado ainda estava ali”, disse. Foi quando a confusão aumentou.
“Começaram a esmurrar a ambulância, dar chutes, gritar para a gente abrir a porta. Quando abri a janela, disseram que se a gente não atendesse a pessoa lá, iam matar a gente lá mesmo”. Mesmo com o veículo sendo sacudido, o condutor conseguiu sair do local em direção ao Hospital Geral Roberto Santos, no Cabula, onde a vítima chegou morta.
“Tenho três anos no Samu e nunca tinha passado por uma situação tão agressiva. O que a gente podia fazer era colocar a vítima na ambulância e rezar para não levar um tiro. A gente ainda foi seguido por motos que eu não sei se eram parentes ou quem alvejou a pessoa. Pedi socorro pelo rádio, pela central, mas eu não uso colete, só ando com a roupa do Samu, o estetoscópio e a luva”, desabafou o médico, que também estava acompanhado por uma enfermeira e um estudante de Medicina, além do condutor. Por sorte, ninguém se feriu. (As informações do Correio)
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