São 19h do dia 25 de junho. O adolescente Victor Santos Silva, 16 anos, sai do alojamento 11 para ir ao banheiro. No caminho, é abordado por outros quatro jovens que o espancam. É socorrido, mas acaba morrendo depois de ficar em coma por 15 dias. São 16h do dia 14 de julho. Bruno Carvalho de Jesus, também de 16 anos, é cercado no alojamento 4. Depois de apanhar de oito adolescentes, morre asfixiado com um lençol.
Duas mortes na Comunidade de Atendimento Socioeducativo (Case) de Simões Filho, muitos questionamentos: quais as motivações dos crimes? Por que os agentes educadores não presenciaram os homicídios e, só depois, descobriram os corpos? Quantos funcionários estavam de plantão para cada jovem? Em meio às dúvidas, uma certeza: os envolvidos nos dois crimes pertencem a grandes facções criminosas ligadas ao tráfico de drogas no estado.
Passados mais de 40 dias dos assassinatos na unidade, esta é a conclusão do próprio juiz da 2ª Vara da Infância e Juventude, Nelson do Amaral, e da delegada que investiga os atos infracionais, Claudenice Mayo. Nos dois casos, os jovens disseram fazer parte do Bonde do Maluco e da Katiara, ambas organizações criminosas com atuação em Salvador e Região Metropolitana. Ou seja, todos os 10 adolescentes e dois adultos (ainda cumprindo medida socioeducativa) que assumiram as autorias dos atos, tiveram como escola do crime quadrilhas de gente grande.
“A primeira coisa que eles fizeram quando chegaram aqui foi dizer o nome da facção da qual faziam parte. Nos dois casos, integrantes do Bando do Maluco se aliaram com integrantes da Katiara. O comportamento dentro da instituição é a reprodução de dentro das facções”, disse a delegada, titular da Delegacia do Adolescente Infrator (DAI).
“O que sabemos é que são grupos de integrantes do tráfico de drogas. Os relatos indicam que, nestes casos, os adolescentes que participaram dos atos são, sim, ligados a facções. A influência do tráfico está disseminada nas unidades socioeducativas. A influência externa muitas vezes foge ao controle dos nossos socioeducadores”, confirma o juiz Nelson do Amaral.
Além das fontes oficiais, o CORREIO ouviu funcionários que trabalham na Case e até ex-internos. Todos confirmam que as facções têm seus braços “juvenis” nas quatro unidades da Bahia. “Para você ter ideia da gravidade, há adolescentes que estão fora do sistema que cometem atos só para cumprir medida e encontrar os rivais”, afirma, pedindo para não ser identificada, uma assistente social.
Não por acaso, o medo é enorme entre os que trabalham lá dentro. “Estamos aterrorizados. Esses jovens são capazes de tudo por causa de uma rixa”, afirma uma funcionária de dentro da própria Case Simões Filho, e que trabalhou diretamente com os jovens que cometeram o ato.
A direção da Fundação da Criança e do Adolescente (Fundac), instituição à qual são ligadas as Cases, informou que “não tem conhecimento do envolvimento de adolescentes com grupos ou facções criminosas”. A Fundac ressaltou que essas informações são de controle exclusivo dos órgãos de investigação e apreensão. “Até mesmo dados pessoais, como nome, origem e ato infracional são confidenciais”, diz a nota da Fundac.
O simples fato de os menores pertencerem a facções não quer dizer que as mortes têm relação com o tráfico. “Não há evidências de que tenha havido uma participação externa dessas facções. Mas que eles pertencem a esses grupos não tenho dúvida”, afirma a delegada. A titular da DAI, porém, revela um outro fato, ocorrido na mesma época, em que um jovem quase foi morto por rixa de tráfico na mesma Case Simões Filho. Esse crime, sim, ocorreu a mando de uma facção. “Foi uma tentativa de homicídio. Um grupo de jovens espancou um adolescente de outra facção, mas ele sobreviveu”, afirma Claudenice. (As informações do Correio)
Nenhum comentário:
Postar um comentário