O governador Rui Costa (PT) entrou em campo para influenciar a parcela aliada da bancada baiana na votação da análise da denúncia feita pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o presidente Michel Temer, que acontece nesta quarta-feira, 2, na Câmara dos Deputados.
Confirmada ontem, as exonerações dos secretários estaduais de Relações Institucionais, Josias Gomes (PT), e de Desenvolvimento Urbano, Fernando Torres (PSD) – ambos deputados federais licenciados para ocupar postos no Executivo – tiram da votação os suplentes Robinson Almeida (PT) e Davidson Magalhães (PCdoB), que, em levantamento publicado por A TARDE no último domingo, declararam voto contra Michel Temer.
A manobra – que, segundo Davidson Magalhães, o surpreendeu – deixa indefinida a posição que a base do governo Rui terá hoje na casa. Nem mesmo Josias declara, apesar da insistência da reportagem, como votará. Antes da mudança na bancada baiana, 16 parlamentares do estado confirmavam posição contra o presidente e outros cinco prometiam votar a favor. O número, agora, pode mudar.
Discurso oficial
Apesar de não assumir que pode votar a favor de Temer para evitar a chegada de um aliado do prefeito ACM Neto (DEM) à presidência da República, como também não descarta essa possibilidade, Josias Gomes admite que vai “tentar influenciar a bancada petista”.
Para ele, “a bancada do PT aplicou uma sexta marcha no ‘Fora Temer’ e não mediu as consequências que teria de um lado e de outro”. Essas consequências, na análise do chefe da articulação política no governo estadual, será a ascensão do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM) ao cargo mais alto do país.
“A bancada do PT não informou à opinião pública, porém, que quem assume é o Rodrigo Maia, que, apesar de jovem, tem ideias até mais atrasadas do que Temer”, disse o petista, horas depois do partido fechar questão a favor da denúncia contra o peemedebista. Segundo o secretário, o governador defendeu a mesma posição que ele, em reunião com a base anteontem. “O governo prefere que a bancada lute por [eleições] diretas, para permitir que o povo vote”, desconversou.
Além de 21 deputados federais, o encontro – promovido fora dos holofotes e sem divulgação prévia – contou com as presenças dos senadores Otto Alencar (PSD) e Lídice da Mata (PSB) e do secretário de Desenvolvimento Econômico e ex-governador, Jaques Wagner. “A posição de Rui parte da premissa de que temos um presidente ilegítimo, golpista, que promoveu atrasos, que está sendo processado, mas que, ao ele sair, assume outro com ideias mais atrasadas ainda”, relatou.
Já Fernando Torres afirmou, em nota, que é a favor de eleições diretas. Essa posição, disse, será defendida por ele durante a votação. No comunicado, o deputado diz que "considera ilegítima a ascensão de Michel Temer à Presidência da República, mas também rechaça qualquer possibilidade de o deputado federal Rodrigo Maia (DEM) assumir o comando do Brasil".
O PSD, partido dele, tem cargos no governo Temer, apesar de, na Bahia, compor a base de Rui. Cacique local da sigla, o senador Otto Alencar disse ao A TARDE que o motivo do afastamento do deputado do governo estadual foi um problema de saúde. Nem é sabido, diz ele, se Torres irá votar, pois ele estaria em São Paulo. Fora Temer-Fica TemerNos bastidores, entretanto, políticos aliados do governador relataram à reportagem que, durante a reunião de segunda, ele fez questão de apontar os impactos negativos de uma possível queda de Temer.
O objetivo, disse um dos homens-fortes do governo no legislativo, é que, com o apoio a Temer, o estado consiga a liberação do empréstimo de R$ 600 milhões que tenta fazer com o Banco do Brasil para investimento em estradas e outras obras. Já confirmada, a liberação do recurso depende, porém, do aval do governo federal.
“Existe o Fora Temer/Fora Temer, o Fora Temer/Fica Temer e o Fica Temer/Fica Temer. Rui é do time Fora Temer/Fica Temer”, brincou uma deputada governista. Em Brasília, Davidson Magalhães afirmou, dizendo-se surpreso, que foi informado sobre a manobra pelo próprio Rui, por telefone. Já Robinson Almeida disse que já havia sido informado por Fernando Torres sobre o “desejo” dele em participar da votação.
Ambos evitaram, em entrevistas, polemizar o tema. “Considero normal da política”, disse Davidson.
Já no Palácio Thomé de Souza, aliados do prefeito ACM Neto (DEM) receberam as informações da manobra feita por Rui com ironia. Uma fonte próxima ao democrata analisou que a estratégia sinaliza “medo de Neto”, que, diante da queda de Temer, teria um correligionário e amigo pessoal na presidência do país – o que é tido por políticos e analistas como fator de influência na disputa pelo governo do estado em 2018. (As informações do A Tarde)
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