segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

TÁXIS CLADESTINOS CIRCULAM COM LIBERDADE NO AEROPORTO

No saguão de desembarque do Aeroporto Internacional de Salvador, um aviso sonoro no alto-falante alerta turistas e baianos que chegam: "É preciso ter cuidado na hora de escolher um táxi".A orientação da Infraero é de que os passageiros evitem utilizar o transporte clandestino oferecido por motoristas em carros de passeio e vans. O problema, antigo, segue incomodando.

O taxista Reginaldo Cohim, diretor de relações públicas da Cooperativa de Táxis do Aeroporto (Comtas), afirma que o conflito se agrava desde 2010, quando um convênio entre a prefeitura da capital e a Secretaria da Segurança Pública (SSP), que permitia à Polícia Militar autuar clandestinos, acabou e não foi renovado. Segundo ele, a disputa por passageiros entre os taxistas registrados e os irregulares tem gerado brigas e ameaças, o que preocupa os condutores. Por causa da concorrência, calcula Cohim, as corridas oficiais caíram, aproximadamente, 50% nos últimos anos.

A crítica feita pelo taxista aos órgãos municipais de fiscalização, como a Superintendência de Trânsito (Transalvador) e a Gerência de Táxi (Getaxi), é repetida por todos os outros trabalhadores entrevistados pela equipe de A TARDE. Um deles, que pede para não ser identificado, afirma que a atuação dos clandestinos é "escancarada", na frente dos agentes de fiscalização. "Não é uma prática escondida. Essas pessoas trabalham abertamente, dentro do saguão, abordando os passageiros e oferecendo serviços de transporte particular, de forma inconveniente, a metros da Polícia Militar e da Transalvador", denuncia o taxista.

Ofertas - Na quarta-feira, fingindo procurar pelo serviço irregular, a equipe de A TARDE foi abordada por três "taxistas" clandestinos em menos de 20 minutos, na área externa do Aeroporto, por onde circulam os ônibus urbanos e metropolitanos. Um deles, utilizando crachá com o nome e distribuindo cartões de visita, propõe que quatro passageiros desconhecidos dividam a mesma corrida, pagando R$ 20 cada um. Já o outro, que só aceita corridas para a rodoviária, anuncia o serviço a R$ 10 por pessoa.

"Para o Centro, onde os turistas costumam ir, cobro R$ 80 para um passageiro. Se as pessoas compartilharem a corrida, para locais próximos, a gente divide", conversou o homem, que no cartão de visita entregue à reportagem se identifica como Gilmarcio Santos. "Aeroporto, hoteis, rodoviária, ferryboat, Pelourinho, Barra e City Tour" são os serviços oferecidos no panfleto. Naquele dia, a propaganda foi suficiente para convencer ao menos duas mulheres a embarcarem no carro. Elas tinham como destino os bairros de Ondina e Cosme de Farias.

Em conversa com a reportagem antes da abordagem do clandestino, uma das duas, que não quis revelar o nome, reconheceu o risco do transporte irregular, mas disse priorizar a economia. "Está todo mundo ruim de grana", tentou justificar.

Esquema - Mais tarde, por telefone, a equipe de A TARDE voltou a conversar com Gilmarcio, novamente se passando por um cliente. Após ser questionado sobre a segurança do serviço, o taxista clandestino deixou escapar que transporta muitos turistas - "sem nenhum problema".

Ele revelou trabalhar em "parceria" com pousadas localizadas na região central de Salvador. Conforme explicação do clandestino, o esquema funcionaria assim: o motorista leva os turistas que transporta para os estabelecimentos parceiros, em troca de contrapartidas pagas pelos proprietários. "Às vezes nem é comissão. Eles me chamam quando precisam de um translado, para compensar a indicação daquele local", deixa escapar, sem desconfiar que está conversando com uma equipe de reportagem.

Denúncia - A Comtas até já denunciou a atuação dos taxistas clandestinos ao Ministério Público Federal na Bahia (MPF-BA), em 2011, mas nenhuma resposta concreta foi obtida. Na época, a procuradora da República Nara Soares Dantas recebeu ofícios dos órgãos notificados e os encaminhou à cooperativa, sem mover qualquer ação referente ao assunto.

Na última segunda-feira, a Comtas voltou a provocar a procuradora, com um ofício em que solicita a interferência do órgão no caso, com o objetivo de resolver o problema. No entanto, segundo a assessoria do MPF-BA, o inquérito já foi arquivado. O fato, de acordo com eles, foge da alçada do órgão, porque envolve autoridades públicas estaduais. "A Infraero, única instituição federal relacionada ao caso, foi notificada e justificou-se de forma satisfatória", informou a assessoria.

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