domingo, 24 de abril de 2016

CICLOVIA TINHA TRINCAS ANTES DA ABERTURA; PREFEITURA NEGOCIA INDENIZAÇÕES

Relatório do Tribunal de Contas do Município (TCM) apontou que a Ciclovia Tim Maia tinha “trincas e depressões” em julho, seis meses antes da inauguração. O documento recomendava que as falhas fossem corrigidas para evitar “posterior necessidade de manutenção”. Um trecho da ciclovia desabou na manhã de quinta-feira, quando a estrutura foi atingida por uma onda. Pelo menos duas pessoas morreram - o engenheiro Eduardo Marinho Albuquerque, de 54 anos, e o gari comunitário Ronaldo Severino da Silva, de 60 anos.

O relatório da 2.ª Inspetoria Geral de Controle Externo do TCM informa que as falhas apareceram próximo do mirante do Leblon, em trecho que já havia sido concluído, entre tampas de bueiro. Os técnicos também apontaram depressões na pista. As informações foram publicadas pelo jornal O Dia. Já a reportagem do Estado de S. Paulo observou ranhuras neste sábado, 23, na ciclovia na região do Leblon, o que também motivava preocupação dos ciclistas.

Em outro trecho do relatório, há uma cobrança a respeito da quantidade de funcionários na obra - os números de empregados trabalhando divergia do que constava no relatório da construção, tanto para mais quanto para menos. “Outro aspecto relevante em relação à mão de obra é a falta de correspondência entre o quantitativo de profissionais indicados nas medições (memórias de cálculo e o apontado em diário de obras”, diz o texto.

Na resposta enviada ao TCM, o consórcio reconhece a falha nas equipes. “Isso ocorreu pela distância entre as frentes de serviço ao longo de toda a Avenida. Niemeyer e ao serviço noturno, que levou a uma dificuldade de apropriação do técnico responsável pelo Diário, além, é evidente de alguma desorganização no início do contrato. Vale acrescentar que não é faturada qualquer mão de obra a maior que o, de fato, realizado.”

O engenheiro Moacyr Duarte, especialista em gerenciamento de risco e pesquisador da Coppe/UFRJ, voltou a criticar a execução da ciclovia. Ele compara a construção ao brinquedo Lego: uma obra modular, formada por pranchas (trechos de pista), colunas e apoios semelhantes. “O que fica patente é que ela é alinhada no início, mas quando chega mais adiante começam a aparecer afastamentos, irregularidades, apoios irregulares, desalinhamento das vigas que são absolutamente injustificáveis”, afirmou.

Para Duarte, a prefeitura não deveria ter recebido a obra nessa situação. “Se isso aconteceu depois de a obra ter sido entregue, é gravíssimo. Não há inspeção do acompanhamento de segurança da estrutura. A auditoria contratada vai levar muitas pessoas a colocarem as barbas de molho. O conserto disso que está aí vai custar uma boa quantidade de dinheiro e a imagem da cidade infelizmente foi terrivelmente maculada”, acredita.

A prefeitura informou que bloqueou o pagamento da parcela de R$ 4,47 milhões ainda devida à empreiteira Concremat até o resultado final das investigações sobre as causas do desabamento. O valor equivale a 10% do custo total da obra. Enterro Um das vítimas da ruína da ciclovia, o gari comunitário Ronaldo Severino da Silva, que trabalhou por 20 anos na Rocinha, foi enterrado neste sábado no Cemitério São João Batista, em Botafogo. A viúva, Eliane Santos, contou que o marido havia saído naquela manhã para dar uma volta em Copacabana. “Como você vai adivinhar que vai acontecer isso?”

Indenizações - As famílias das duas vítimas do desabamento de parte da Ciclovia Tim Maia serão indenizadas pela Prefeitura do Rio de Janeiro. Segundo o prefeito Eduardo Paes, a Procuradoria Geral do Município já foi acionada para chegar a um acordo com os parentes, mas a negociação ocorrerá “de maneira sigilosa”. “A Prefeitura entende a sua responsabilidade nesse episódio”, afirmou Paes a jornalistas. O prefeito disse ter procurado as duas famílias, mas conseguiu conversar ao telefone apenas com o cunhado do engenheiro Eduardo Albuquerque. “Tive a oportunidade de me solidarizar, lamentar o ocorrido”, contou. (As informações do Estadão)

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