Na primeira declaração pública após o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), acatar um dos pedidos de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chamou ontem a decisão de “loucura” e disse, no Rio, que o peemedebista colocou seus interesses acima dos do País. Lula defendeu uma solução rápida para o processo e criticou a oposição, que, afirmou, ainda busca um “terceiro turno” da eleição de 2014.
O ex-presidente falou à imprensa após reunião de pouco mais de meia hora, no fim da tarde desta quinta-feira, 3, com o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB). De manhã, o governador, correligionário de Cunha no PMDB fluminense, mas aliado da presidente, já o havia criticado por dar andamento ao pedido de impeachment. “A tarefa maior neste instante é não permitir que essa loucura que o Eduardo Cunha fez ontem (anteontem tenha prosseguimento. Precisa decidir isso logo. Se a gente for esperar passar Natal, passar fevereiro, passar o carnaval, qual será o clima político neste País? Qual investidor que vai querer investir no Brasil?”, perguntou Lula.
O ex-presidente aproveitou para criticar a oposição. “Aqueles que quiseram fazer o terceiro turno da eleição, caçando a presidenta Dilma na Justiça Eleitoral, agora acharam a possibilidade do terceiro turno com a tese do impeachment, que não tem nenhuma sustentação legal, a não ser uma demonstração de raiva, de ódio”, afirmou Lula. Segundo o ex-presidente, ele fez oposição “a vida inteira”, mas ninguém o viu, quando perdeu algum pleito, “ficar criando caso por causa das eleições”. Lula descartou ainda a possibilidade de Dilma ter se envolvido em barganha política para trocar o apoio do PT no processo pela cassação do mandato de Cunha no Conselho de Ética da Câmara pelo arquivamento dos pedidos de impeachment.
A decisão do PT de votar contra Cunha é um dos motivos para o deputado ter aceitado o impeachment. “Não houve acordo, pelo menos eu não sei, ninguém me falou. Conheço a Dilma e é muito difícil alguém imaginar que a Dilma faz barganha”, falou o ex-presidente, mesmo após Cunha declarar, ontem, que Dilma mentiu ao dizer, em pronunciamento na noite de anteontem, que o governo não fez barganha. Lula evitou dizer se Cunha deveria deixar o cargo de presidente da Câmara, pela suspeita de envolvimento com casos de corrupção. “Não podemos ficar dependendo apenas do presidente. A maioria dos deputados não quer que o País saia prejudicado”, disse.
O ex-presidente petista defendeu as medidas de ajuste propostas pela equipe do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, como saída para a crise econômica e cobrou união. “Se a economia não voltar a andar, em casa que não tem pão, todo mundo briga e ninguém tem razão”, afirmou Lula, após comparar o País com um trem. “Quando o trem está descarrilado, a gente não fica brigando pra saber qual é a nossa posição, se de primeira classe, segunda classe ou terceira classe. A gente tem de colocar o vagão no trilho e ficar disputando nosso espaço”, disse.
Na sede do governo do Rio, Lula elogiou o governador do PMDB e destacou que Pezão propôs que Dilma convocasse os governadores em busca de apoio. Segundo o ex-presidente, já haveria uma articulação entre os governadores do Nordeste. Antes de encontrar o ex-presidente, Pezão recebeu telefonema da presidente Dilma, durante entrevista em que criticava a abertura do processo de impeachment. Ele disse que a ligação foi o retorno de Dilma a um contato anterior que fizera. Pezão se solidarizou com a presidente e declarou pretender ajudá-la “no que for possível”, mas que não tem como influenciar os deputados do Rio a votarem contra o impedimento. “Não tenho esse poder de ter peso na bancada federal. O apelo que faço aos deputados e senadores do Rio é que a gente termine rapidamente com esse processo e dê governabilidade ao País”, disse o governador após falar com Dilma. (As informações do Estadão)
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