Com a prisão preventiva do empresário Mariano Ferraz, detido no aeroporto de Guarulhos na quarta-feira (26) quando estava prestes a embarcar para Londres, a força-tarefa da Lava Jato avança sobre uma área ainda não investigada na Petrobrás: o setor de compra e venda internacional de combustíveis e derivados que pode atingir, além do PT, o PMDB e o PSDB. Segundo a Lava Jato, o grupo internacional Trafigura, do qual Ferraz é executivo, movimentou US$ 8,6 bilhões em compras e vendas de derivados de petróleo com a Petrobrás entre 2003 e 2015. Submetidas à Diretoria de Abastecimento da estatal, as operações foram citadas em depoimentos pelo senador cassado Delcídio Amaral e pelo ex-diretor da Petrobrás Nestor Cerveró como um "terreno fértil para ilicitudes", pois a variação dos preços poderiam gerar "margem para propina".
Segundo Cerveró, apesar de não ser uma área de "muita influência" do PT na estatal, as propinas nos negócios teriam abastecido caixa 2 da campanha de Jaques Wagner (PT) ao governo da Bahia, em 2006. Ele relatou também que Rogério Manso, diretor de Abastecimento que antecedeu Paulo Roberto Costa no cargo, seria um nome "do PSDB" indicado pelo ex-ministro da Fazenda Pedro Malan e que teria operado o "esquema de trading" até 2004. Ainda assim, segundo Cerveró, Manso teria continuado a atuar com trading até 2007 e teria sido quem coordenou "informalmente" a captação do suposto caixa 2 de Wagner. Delcídio também relatou em sua delação que, com a chegada de Paulo Roberto Costa, em 2004, Malan teria pedido ao então ministro da Fazenda Antonio Palocci que Manso permanecesse na diretoria. A partir daquele ano, contudo, Manso foi para a diretoria de Gás e Energia, onde ficou até 2007.
Cerveró, por sua vez, disse que, depois de Manso, a área de trading teria sido assumida, em 2010, por um indicado pelo senador Edison Lobão (PMDB) identificado como "Pereirinha". No pedido de prisão de Ferraz, a força-tarefa aponta que o executivo teria repassado mais de US$ 800 mil em propinas a Paulo Roberto Costa entre os anos de 2011 e 2013 por meio de uma conta do genro do ex-diretor no exterior. Os investigadores também levantam todos os contratos da Trafigura e citam o volume de negócios, incluindo o trading internacional e o afretamento de navios (que de 2004 a 2015 somam US$ 169 milhões) da companhia com a Petrobrás. Os investigadores também citam um contrato da empresa Decal, representada por Ferraz, com a estatal. Rogério Manso e Pedro Malan rechaçam ontem as acusações feitas por delatores, que classificam como "difamatórias".
O ex-ministro da Fazenda diz não conhecer e nem ter mantido contato com Manso e nem com Delcídio. Já o ex-diretor da Petrobrás diz que nunca precisou de apoio político em sua carreira na estatal e que deixou de atuar com trading a partir de 2004. Procurada, a defesa do senador Edison Lobão (PMDB) não respondeu ao contato da reportagem. O ex-ministro Jaques Wagner e a defesa de Palocci não foram localizados. Os advogados de Mariano Ferraz não quiseram se manifestar sobre o caso. (As informações do Estadão)
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