domingo, 25 de dezembro de 2016

CABRAL E ESPOSA PASSAM 264 VEZES PELA PF EM VIAGENS INTERNACIONAIS

A matéria enviada anteriormente continha uma incorreção no primeiro parágrafo: a média das viagens internacionais de Sérgio Cabral e Adriana Ancelmo foi de 2,31 vezes por mês, considerando todas as idas e voltas dos dois, juntos ou separados, ao longo de 114 meses - e não 2,93 vezes, como constava. Segue o texto correto.

O ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB) e a ex-primeira-dama Adriana Ancelmo passaram pelo controle de passaportes da Polícia Federal no Aeroporto Internacional do Galeão pelo menos 264 vezes entre abril de 2007 e setembro deste ano. A movimentação média foi de 2,31 vezes por mês, considerando todas as idas e voltas dos dois, juntos ou separados, ao longo de 114 meses, indo para e voltando de, principalmente, Londres, Paris e Nova York, mas também de outras cidades. Os registros de saída são 61 para Cabral e 72 para Adriana, e os de entrada, respectivamente, 54 e 70. Há ainda sete registros dos dois, sem detalhes.

O casal é investigado pela Operação Calicute da Polícia Federal e do Ministério Público Federal (MPF), um desdobramento da Lava Jato. Os deslocamentos de Cabral e Adriana foram tabulados pelo jornal O Estado de S. Paulo com base em análise de dados colhidos pela Calicute no Sistema de Tráfego Internacional da PF. O casal, além de voos comerciais, também usou jatinhos particulares.

O ex-governador e a advogada já são réus, estão detidos em Bangu, na zona oeste do Rio, e respondem por suposto envolvimento em organização criminosa que teria desviado R$ 224 milhões de obras públicas por meio de empreiteiras investigadas pela Lava Jato. Para o MPF, Cabral teria chefiado o esquema. Ele nega.

A quantidade de viagens de Cabral e Adriana para o exterior despertou a atenção de investigadores da Calicute. Procuradores e policiais federais querem saber se, em suas passagens por outros países, eles aproveitaram para esconder parte do patrimônio que, supostamente, desviaram. A suspeita se fortalece porque, com frequência, o casal viajou separado, segundo os dados analisados.

Em apenas duas das 22 "pernas" feitas em jatinhos no período, por exemplo, há registro de que eles tenham ido e voltado na mesma aeronave. Foi assim que deixaram o Brasil em 8 de fevereiro de 2011 e voltaram no dia 13, no avião Gulfstream GV-SP, prefixo PROGX, operado pela AVX Taxi Aéreo.

Localizada na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, a empresa tem como sócios Eike Batista, Thor Batista e Ivo Buschmann Júnior. Procurado, Eike, por meio de assessoria de imprensa, informou que o empréstimo do avião a Cabral não é novidade e alegou não ter negócios com o Estado. Desse modo, não haveria irregularidade.

Os dados do Sistema de Tráfego Internacional da PF de posse da Calicute confirmam também que Cabral e Adriana, mesmo depois da renúncia do ex-governador em abril de 2014, continuaram a usar passaportes diplomáticos fornecidos pelo Ministério das Relações Exteriores, conforme revelado pela reportagem no dia 5 deste mês. Há registros da expressão "diplomata" ao lado da anotação de entrada ou saída do País do ex-governador e sua mulher, em datas nas quais o peemedebista já havia deixado o cargo.

Pós-mandato - De 72 viagens de Adriana ao exterior, 28 (quase 40%) foram feitas após Cabral deixar o governo. Em boa parte dos deslocamentos, ela estava sem o marido, segundo os registros. Ela teve como destinos iniciais, apurados a partir do número de cada voo, Londres (24 vezes), Paris (9) e Nova York (13). As cidades são hubs - pontos de conexão de viagens aéreas. A advogada desembarcou também em outras 26 cidades.

Nos dados obtidos pelo jornal, não há registro de saída do País do ex-governador em 2015. Em 2016, há uma saída - foi em 22 de janeiro, uma viagem para Londres. Dos 61 destinos identificados de viagens de Cabral, Londres foi principal destino, seguida de Paris (14) e Nova York (8). Cabral viajou também para outros 21 cidades.

Não é possível, porém, distinguir viagens oficiais das particulares durante o período em que Cabral foi governador, entre janeiro de 2007 e abril de 2014. Levantamento divulgado em maio de 2012 pelo Palácio Guanabara revelou que, desde sua posse até aquela data, ele ficara 128 dias fora do País em viagens oficiais. Foram 39 cidades em 37 missões a 18 países - quase uma a cada dois meses.

Os destinos das viagens realizadas de jatinhos também não são informados. Os dados mostram que, sem a companhia da mulher, Cabral usou o avião PRAVX seis vezes; o PROGX uma vez; o PPMMF quatro vezes; e o PT JAA duas vezes. Adriana viajou sem o marido no PRAVX seis vezes e no PPVDR uma vez. Também não há informação sobre a cidade visitada pelo casal na viagem que realizaram juntos no jatinho de Eike.

Curiosidades - Além da frequência a alguns destinos, há algumas curiosidades nos dados sobre as viagens do ex-governador e da ex-primeira-dama do Rio ao exterior. Em setembro deste ano, por exemplo, dois meses antes de a Operação Calicute ser desencadeada, Adriana saiu do País no dia 6, voltou no dia 13, viajou de novo em 19 e voltou em 26. Os destinos desses deslocamentos, porém, não estão registrados.

Desde abril de 2014, mês em que Cabral renunciou, as viagens da ex-primeira-dama ocorreram ao ritmo de pelo menos uma (ou uma e meia) por mês. Doze dessas viagens foram para Londres.

Em 7 de maio de 2014, há o registro de chegada de Adriana no voo 8079 da Air France. O ponto de partida era Mahe, ilha em Seychelles, paraíso turístico e fiscal no Oceano Índico. Meses depois, partiu para Dubai no voo EK248, da Emirates, em 6 de outubro de 2014. Voltou pela mesma companhia, no 247, no dia 13 seguinte.

A pesquisa também registra para onde o ex-governador viajara, em janeiro de 2011, quando o Rio sofreu uma tromba d’água que matou cerca de mil pessoas na Região Serrana, no dia 13. Na época, assessores de imprensa do Palácio Guanabara disseram que Cabral estava no exterior em viagem particular, mas não sabiam onde. Os registros apontam que o casal embarcara para Londres no dia 6, no voo JJ8084, e voltou no dia 13, no JJ8085, a tempo de o então governador sobrevoar as áreas atingidas, de helicóptero, com a então presidente Dilma Rousseff. (As informações são do jornal O Estado de S. Paulo)

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