Quanto custa fazer um acarajé, um abará? Esses ícones culinários baianos nunca saem de moda, mas seu preparo sofre também com os efeitos da crise econômica, o aumento dos custos e da concorrência, que podem afetar a renda de milhares de pessoas na capital baiana, que vivem em uma economia de mercado muito particular e de equilíbrio delicado.
Nascida como alternativa para escravas comprarem a alforria delas e de seus familiares na Bahia do século XVIII, a venda de alimentos em tabuleiros exibidos nas ruas da cidade se consolidou. Segundo o pós-doutor em antropologia e professor da Universidade Federal da Bahia Vilson Caetano, nos últimos anos, a venda destes alimentos permitiu visualizar a inserção de homens e da mulheres negros na economia de Salvador, desfazendo a ideia de que esta atividade integrava apenas o mercado informal.
Mas, além de estimular a criatividade, a venda principalmente do acarajé atraiu a concorrência de estabelecimentos comerciais e de pessoas em busca de renda numa região que registra os maiores índices de desemprego entre a população economicamente ativa do país. A mais nova "ameaça" vem de vendedores em carros que oferecem acarajé a R$ 1. O produto é menor, mas vem sendo consumido sem críticas ao sabor.
"Fazer acarajé e abará custa muito caro, minha filha", diz Rita Santos, presidente da Associação das Baianas de Acarajé e Mingau do Estado da Bahia (Abam). "Primeiro é gás, um botijão em casa e outro na rua, luz, água, sem falar na taxa de R$ 250 que a gente paga à prefeitura. Depois tem o camarão seco, o mais barato a partir de R$ 26, o balde de azeite (de dendê) a R$ 70. E lá vão cebola, alho, sal, feijão ou massa pronta, gengibre, castanha, castanha-de-caju, cheiro-verde. E ainda tem a baianinha (embalagem), o caderno (folhas brancas para envolver o bolinho), além do transporte do tabuleiro e panelas para o ponto", diz.
"Tenho certeza de que esse pessoal não segue as normas da Vigilância Sanitária que manda as baianas jogarem fora metade do azeite a cada dois dias, a não usar papel reciclado. Também não vestem roupa própria, nem pagam taxas. Trabalhar assim fica fácil", afirma, indignada.
Custos - Rita Santos, que participou na semana passada de um evento de baianas do acarajé no Rio de Janeiro, diz que naquela cidade o preço médio do bolinho é de R$ 12. "Aqui não tem dendê, nem camarão e falta feijão. A maioria dos produtos é importado da Bahia e o pessoal que compra acarajé aqui não reclama do preço, não", explica a baiana
Quem pretende experimentar o acarajé ou abará de Salvador durante o verão nos principais pontos turísticos deve encontrar preços entre R$ 6 e 10. Aos preços dos ingredientes, as baianas adicionam a sistematização da atividade, que inclui tabuleiros com especificações de material e dimensão rígidas, panelas de inox, panos de alvura única e trajes típicos. Além disso, pagam ajudantes, transporte e local para guardar os equipamentos de trabalho. (As informaçoes do A Tarde)
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