sexta-feira, 18 de agosto de 2017

LÍDER RELIGIOSO ACUSA PMs DE ARROMBAMENTO E INVASÃO NO CURUZU

“Se fosse na igreja evangélica ou na católica, eles não entravam. Não entravam porque lá tem Deus. Mas aqui no terreiro, eles acham que não tem Deus, só o Diabo e vagabundos”. Este foi o desabafo do pai de santo Amilton Costa, sacerdote do terreiro de candomblé Hunkpame Savalu Vodun Zo Kwe, no Curuzu, na Liberdade, em Salvador, ao acusar policiais militares do Patrulhamento Tático Móvel (Patamo) de arrombar e invadir o espaço, na manhã desta quinta-feira, 17, durante uma operação no bairro.

Ele contou que cinco PMs pularam um muro que fica no fundo do terreiro e invadiram o imóvel após arrombar a porta da cozinha. “Estava no barracão conversando com um policial civil, aí ouvi o barulho e, quando fui ver, eles já estavam aqui dentro. Colocaram a arma na minha cara e me mandaram sair. Eles fugiram quando disse que ia chamar o comandante”, narrou o sacerdote.

Conforme Costa, antes da ação, ele já havia liberado a entrada dos policiais para vasculhar a área externa do terreiro. “Permiti a entrada dos policiais civis, eles foram muito educados. Mas os PMs não me pediram permissão. Se tivessem pedido, minha filha, tinha aberto a porta, não tenho nada a esconder”, declarou o senhor.

Segundo informações da assessoria da Secretaria de Segurança Pública (SSP-BA), os policiais que estavam conversando com o pai de santo eram policiais militares do Serviço de Inteligência do órgão e não policiais civis.

De acordo com o sacerdote, além dele, alguns filhos de santo, uma vizinha e duas visitantes estavam no local. “Foi horrível. Não precisavam fazer isso. Quero que paguem minha porta”, disse ele. Costa afirmou que já está sendo acompanhado por um advogado e deve registrar o caso na corregedoria da Polícia Militar e na Defensoria Pública.

A reportagem de A TARDE entrou em contato com a assessoria da SSP e foi orientada a procurar o Departamento de Comunicação Social da Polícia Militar (DCS). Em nota, o DCS orientou “o cidadão a formalizar o registro junto à Ouvidoria da Corporação (0800 284 0011) ou do site institucional (www.pm.ba.gov.br), no link da Ouvidoria.

Tombado por lei
O terreiro Hunkpame Savalu Vodun Zo Kwe, localizado na Rua do Curuzu, foi tombado pela Prefeitura de Salvador, com apoio da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (Secult/ BA), em 15 de janeiro de 2016.

O templo religioso foi o primeiro a ser tombado com base na Lei 8.550/2014, de Preservação do Patrimônio Cultural do Município de Salvador. Segundo Doté Amilton Costa, sacerdote do templo há mais de 30 anos, desde que o terreiro foi fundado, em 1890, esta foi a primeira vez que o espaço foi invadido. “Eles não respeitaram a minha religião, não me respeitaram. O que eles fizeram é crime”, afirmou ele.


Ataque a viatura
Um ataque contra uma viatura da 37ª Companhia Independente da Polícia Militar, na Rua da Alegria, na região do Curuzu, na Liberdade, deflagrou a ocupação de ontem da Companhia de Patrulhamento Tático Móvel (Patamo) no bairro.

O comandante da 37ª CIPM, o major Edmilton Ricardo Marques, disse que a ação da Patamo vem para auxiliar o combate à criminalidade: “Uma quadrilha que vende drogas e comete homicídios vem atuando de forma intensa no bairro e a Patamo vem para nos auxiliar no combate a esse grupo que tem oprimido a população”.

Planos traçados
O comandante do Batalhão de Choque, tenente-coronel Paulo Guerra, disse que a Liberdade já estava nos planos da Patamo “por conta das recentes ocorrências relacionadas ao tráfico”.

“Inclusive a viatura que foi alvejada estava fazendo o levantamento dos locais no bairro que merecem a nossa atenção. Já temos informações sobre os autores do atentado e traficantes da área; não sairemos daqui até restabelecer a ordem”, afirmou Guerra.

Na rua da Alegria e nas vizinhas, o clima era de medo e apreensão, com casas fechadas e moradores assustados. Um helicóptero e um drone foram utilizados na operação.(As informações do A Tarde)

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