É comum ouvir consumidores reclamarem que a fatura do cartão de crédito é maior que o valor das compras realizadas no mês. E as repetitivas queixas têm fundamento. Estudo da Proteste Associação de Consumidores indica que os custos com a anuidade do cartão de crédito podem somar até R$ 1,2 mil por ano. Um valor muitas vezes é dissolvido na fatura sem que o consumidor nem perceba. O levantamento mostra, ainda, que é possível economizar nos custos das tarifas administrativas do cartão, como por exemplo, na contratação de produtos, planos e serviços.
“É importante que o consumidor olhe além da taxa de juros e observe também os valores cobrados pelo custo total efetivo do cartão (CET), produtos como oferta de seguros anti-furto e Imposto sobre Operação de Crédito (IOF)”, explica a técnica da Proteste, Renata Pedro. Ainda de acordo com a Proteste, o valor da economia vai depender de uma instituição financeira para outra (veja no infográfico). A pesquisa analisou 108 bandeiras de cartões de crédito, levando em consideração os valores que seriam praticados este ano.
O cartão de crédito com a anuidade mais cara é o The Platinum Card, da Amex, no qual a anuidade alcançou a faixa de R$ 1,2 mil. “É um cartão que só é possível adquiri-lo a partir de um convite feito pelo banco. O limite de despesa é flexível com o perfil de consumo, oferece sala vip no aeroporto, travel service além de programa recompensas e pontos que podem ser trocados por milhas, vantagens que encarem muito o valor da anuidade“, ressalta Renata Pedro.
Dos cartões avaliados, Hipercard e Santander Free foram os únicos que não cobravam anuidade, entretanto, o Hipercard tinha uma das maiores taxas de juros e o Santander cobrava uma taxa mensal de R$ 22,50 no mês em que o consumidor não realizasse nenhum tipo de compra. “Mesmo com anuidade zero o Hipercard tem os juros rotativos mais altos do mercado, que chegam a 750% ao ano. Isso significa dizer que uma dívida de R$ 1 mil, em um ano pode crescer para R$ 7 mil”, exemplifica a técnica da Proteste. No caso do Santander, a anuidade é disfarçada. “É um cartão vendido como anuidade zero, mas que impõe ao consumidor realizar compras mensais”.
De olho na fatura - A assistente social Zilma Neves trocou recentemente o cartão Hipercard pelo Nubank - que também não cobra anuidade. No caso do Nubank, toda a operacionalização do cartão é feita por meio de um aplicativo de celular. “O Hipercard cobrava muito por tudo. Tive que pagar R$ 4 pela carta de cobrança que eles me enviaram quando atrasei o pagamento por 15 dias”. Atenta aos custos que oneram o cartão de crédito, Zilma foge do rotativo e sempre se esforça para pagar o valor inteiro da fatura. “Isso foi um dos motivos que me fez trocar de cartão. O Nubank tinha juros mais baixos. A taxa não passa de 7,75% ao mês e fica bem abaixo da média do mercado”, compara ela.
O analista de Recursos Humanos, João Carlos Almeida também passou a ficar mais atento à fatura do cartão. Acompanhar as informações além da movimentação de gastos lhe rendeu uma economia de R$ 144 no ano, quando trocou a bandeira do cartão, que antes era platinum, pelo gold. “Li a fatura, comparei os valores e vi que não perderia nada. Muito pelo contrário, consegui economizar bastante. A mensalidade caiu de R$ 34 passei para R$ 21 com o mesmo limite de crédito”. A adequação do cartão é essencial para quem quer reduzir custos, como aconselha a técnica da Proteste, Renata Pedro. “Fique atento aos serviços que estão sendo embutidos e se está pagando por uma coisa que efetivamente irá utilizar”, observa.
Juros - Apesar do fácil acesso, o consumidor deve ficar atento porque o Cartão é a linha de crédito mais cara da praça. Segundo pesquisa da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), o juro no rotativo do cartão de crédito subiu para 410,97% ao ano em janeiro – alta de 14,56% em relação a dezembro de 2015. Rotativo é o valor da fatura não paga pelo consumidor. “Com o cenário de recessão econômica e o risco maior de endividamento mesmo com a taxa Selic inalterada, os bancos elevam suas taxas para compensarem os riscos de inadimplência”, explica o diretor da Anefac, Miguel de Oliveira.
A comerciante Márcia Araújo sentiu no bolso o peso dos juros. A fatura do cartão deste mês veio R$ 1,7 mil. Mas o dinheiro que tinha só deu para pagar R$ 1,3 mil. “Está complicado. O salário não está dando. Você acha que vai gastar uma coisa, quando vê está tudo mais caro e a conta não fecha”, afirma. Antes que a dívida cresça, Márcia buscou logo uma renegociação com o cartão. “Vou pagar o acordo e fazer de tudo para não usar o cartão até saldar a dívida”.
O técnico de informática Luan Porto precisou fazer malabarismo para conter a bola de neve que a dívida com o cartão de crédito pode se tornar. Ele gastou R$ 700 em maio do ano passado, mas como ficou desempregado, só conseguiu pagar o mínimo da fatura. “Tem cinco meses que não toco naquele cartão. Só consegui resolver agora em fevereiro, mas paguei quase o mesmo valor do que havia gastado só de juros”, calcula.
Para não ficar refém do cartão de crédito, o diretor da Anefac, Miguel de Oliveira, recomenda que o consumidor evite contrair novas dívidas. “Vai ser um ano difícil para as famílias. Se você perceber que não vai conseguir cobrir o valor integral da fatura, procure logo o seu banco e toma um empréstimo pessoal. As taxas são infinitamente mais reduzidas. É trocar uma dívida mais cara e que cresce rapidamente por uma linha de crédito mais barata”, recomenda. (As informações do Correio)
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