segunda-feira, 30 de setembro de 2013

ARTIGO: RESPONSABILIDADE FINANCEIRA NOS CLUBES É UM SONHO?

Por: Alexi Portela Júnior*

Essa indagação traz consigo certa dose de provocação. Mas poderíamos traduzir essa mesma indagação em um questionamento ainda mais amplo: será que a paixão poderá ceder o espaço necessário para que a razão a acompanhe nas decisões? Todo e qualquer presidente de clube é antes de tudo um apaixonado, mas isso não significa necessariamente que este tem um cheque em branco para preenchê-lo no valor que bem quiser e entender.

Recentemente, o tema da situação econômico-financeira tem despertado cada vez mais atenção da mídia especializada visto o estado de insolvência em que se encontram alguns grandes clubes brasileiros. Seja por decisões impensadas e emocionais, má administração ou mesmo dolo, o dirigente de clube deve ser responsabilizado, sob as penas da lei, por seus atos. Mas, infelizmente, isso não tem sido a regra.

Contudo, nem sempre o dirigente é o único responsável por essa situação de penúria em que vivem os grandes clubes: O ambiente que cerca o mercado de futebol nacional é complexo e, em certa medida, hostil. Muito se fala do incremento orçamentário provocado pelos novos contratos televisivos, mas, proporcionalmente, salários de atletas e técnicos crescem na mesma medida. Os gastos com salário de um único técnico ou jogador de ponta pode comprometer cerca 5% do orçamento de um clube como o Vitória, algo inimaginável para empresas fora deste mercado.

Como se não bastassem as remunerações estratosféricas, o vínculo de um atleta situa-se em um “pântano” jurídico onde, quase sempre em prejuízo dos clubes, aplica-se ou as regras da CLT ou da Lei Pelé. Enquanto os economistas propalam o alto custo demissional da CLT, o que dizer da Lei Pelé, que obriga os clubes a indenizar atletas em rescisão contratual antecipada por todo valor restante do seu contrato?

A título de exemplo, nos últimos dois anos o governo federal implantou uma política de renúncia fiscal para vários setores da economia. Ainda nessa mesma semana foi aprovada a PEC da música, que concede isenção fiscal às produções artísticas brasileiras. Já os clubes nunca foram agraciados por qualquer desses “pacotes de bondade”. Quando muito, dívidas passadas foram parceladas ou mesmo abatidas através de recursos oriundos de loterias como a Timemania.

Em 2010, a UEFA lançou o projeto “Fair Play Financeiro” que visa criar limites e regras para os gastos dos clubes e punições para os que deixam de honrar os seus débitos. Em 2013, o sindicato dos jogadores da Argentina conseguiu impedir que clubes com débitos salariais fizesse qualquer transferência de atletas.

No Brasil, por iniciativa da CBF, foi formada uma comissão da qual particípio, tramita no congresso um projeto de lei que visa abater a dívida fiscal dos clubes - sob algumas condições como o investimento em esportes olímpicos – e punir com perda de pontos ou mesmo rebaixamento aqueles que contraírem novas dívidas, algo que já acontece há muito tempo nas ligas europeias. Para nossa cultura, a punição técnica pode ser exagerada, mas certamente é a única maneira para que dirigentes e torcida entendam a necessidade de manter os clubes financeiramente viáveis.

Minha presidência foi sempre pautada pela responsabilidade com as finanças do clube. Nunca abdiquei de pensar assim, mesmo quando os resultados não eram favoráveis, evitei a tentação de endividar o clube. As eleições se aproximam e encerro meu mandato com o clube saneado, ativos e patrimônios expressivos. Que a saúde financeira atraia candidatos responsáveis e preparados e oxalá os aventureiros de plantão, interessados em aproveitar a atual situação do clube, não tenham sucesso. Conselho e torcida terão maturidade para separar o joio do trigo.

*Alexi Portela Júnior é presidente do Esporte Clube Vitória

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