Há quase cinco meses o som que ecoa mais alto no berimbau de mestre Bozó é a Iúna, toque fúnebre da capoeira. Desde 13 de junho de 2013, ele chora pela morte do filho, Carlos Alberto Conceição dos Santos Júnior, 22, morto a tiros por policiais militares no bairro Nordeste de Amaralina, onde morava com a esposa e o filho de dois anos. Além da perda do filho, Carlos Alberto se diz insatisfeito com a impunidade aos sete PMs responsáveis pela ação que levou à morte do jovem. "Essa demora em resolver o caso é porque os autores são policiais. Se fosse um de nós, da favela, já estariam presos. Toda semana vou à corregedoria, mas dizem que não têm resposta", diz, indignado.
A Polícia Militar, no entanto, informou que a corregedoria do órgão instaurou Inquérito Policial Militar (IPM) que já foi concluído e encaminhado ao Ministério Público do Estado da Bahia (MP-BA). Há três anos, a mesma família que perdeu agora o jovem Carlos Aberto já havia perdido o menino Joel da Conceição Castro, morto aos 10 anos por um tiro disparado por um PM em 21 de novembro de 2010, também no Nordeste de Amaralina.
Este caso, para Carlos Alberto - que era tio de Joel - é ainda mais revoltante. "Já se passaram três anos e ninguém foi punido. A família já não sabe o que fazer para cobrar a punição. Um dos responsáveis, inclusive, foi promovido, virou sargento, depois de destruir a vida de uma família", relata mestre Bozó.
Emocionado, ele conta que, na semana da morte do filho, Júnior, como era chamado entre familiares e amigos, seria condecorado mestre de capoeira. "Estávamos preparando uma grande festa, ele estava muito feliz. Júnior era um menino trabalhador, bom filho", afirma, antes de concluir: "E sabem o que mais dói? Antes de matarem ele, covardemente, ele gritou 'não me matem, sou trabalhador'. Júnior não fez nada de errado, era um homem de bem. É uma ferida que nunca será curada".
Sobre o caso do menino Joel - que já havia trabalhado em campanha publicitária do governo do estado -, a PM informou que a corregedoria instaurou um Processo Administrativo Disciplinar (PAD), e oito PMs estão em processo de julgamento pela Justiça. (As informações do A Tarde)
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