A esperada aprovação do impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) apesar de ser pauta nacional, terá repercussão também nas eleições municipais majoritárias e proporcionais, entre as quais a de Salvador, avaliam analistas ouvidos por A TARDE. Nas duas principais campanhas ao Palácio Thomé de Souza, tratamentos diferentes serão dados ao tema. Enquanto a deputada federal Alice Portugal (PCdoB) tentará colar o selo do que chama de "golpe" no prefeito ACM Neto (DEM), o candidato à reeleição vai focar nos debates sobre a cidade, sem deixar, no entanto, de se beneficiar com a mudança do comando da República.
Segundo o coordenador de marketing da campanha do prefeito ACM Neto à reeleição, Pascoal Gomes, as tentativas de associar o prefeito ao impeachment serão resolvidas judicialmente. Ontem, o Tribunal Regional Eleitoral da Bahia (TRE-BA) determinou que sejam retirados do ar os trechos da propaganda eleitoral de Alice que chamam o prefeito ACM Neto de "golpista".
O programa eleitoral da chapa demista vai focar, segundo ele, "nas obras que o prefeito fez e nas histórias das pessoas da cidade". "Não temos preocupação com isso, não temos interesse nesse debate, porque não é um assunto que tem a ver com Salvador", afirma ele, endurecendo o tom com a candidata opositora: "O PCdoB que vai precisar explicar sua relação com o PT e com Dilma e Lula nesse governo envolvido em escândalos", disparou.
A TARDE tentou ouvir o prefeito ACM Neto, mas a agenda de campanha não permitiu. Segundo sua assessoria, a opinião do coordenador de marketing refletia a opinião da campanha.
Do outro lado, a deputada federal Alice Portugal, admite que usará o tema do impeachment na campanha. "As pessoas não podem esconder as posições que têm", afirmou, em entrevista por telefone. "Não sou eu que quero colar (o impeachment no prefeito), ele que faz parte do golpe. O partido dele é cérebro do golpe no parlamento, ainda que essa posição seja incômoda para ele", declarou a comunista. Um dos coordenadores da campanha da candidata, Vicente Neto afirma que "não será feito o uso político" do impeachment na eleição.
"A ideia", ele explica, "é informar à população sobre o que significa o golpe para Salvador". "Vamos alertar a cidade sobre o que ela pode perder validando um golpe ao votar em um candidato que apoiou esse processo", afirmou Vicente. Ele ainda acusou o prefeito de "fugir" do debate sobre o tema. "Todo mundo sabe que ele foi a Brasília e articulou votos para depor uma presidente eleita democraticamente, ele não pode fugir disso", disse.
Esquerdas - A tentativa da oposição a Neto de inserir na eleição municipal soteropolitana o debate sobre o impeachment pode ajudar a chapa de Alice a crescer "dentro do campo da esquerda que apoia Lula e Dilma", segundo avaliação do sociólogo e professor da Ufba, Jovianiano Neto.
Para o especialista, Neto deve, por outro lado, tentar convencer o eleitor de que sua boa relação com o novo governo federal - composto pelo seu partido e pelo ministro aliado, o baiano Geddel Vieira Lima (PMDB) - é um elemento benéfico para os projetos que o demista tem para a capital baiana.
Joviano acredita, entretanto, que um esforço terá que ser feito para não se aproximar da imagem do presidente interino Michel Temer (PMDB). "O Temer não agrega muito, mas vão ter que tentar usar o governo federal sem se associar a ele", explica o professor. O cientista político Paulo Fábio Dantas, também professor da Ufba, concorda que a estratégia de associar a imagem do prefeito ao impeachment - chamado por petistas e comunistas de "golpe" - tem o objetivo de conquistar votos de uma parcela específica dos eleitos.
Para ele, essa estratégia "é típica de coligações que vão tentar eleger o máximo de vereadores", mas não tem força para "virar o jogo". "A candidatura da chapa que parece ser a principal chapa de oposição pode crescer dentro desse público que desaprova o impeachment e esse discurso de 'golpe' vai tentar eleger mais vereadores da esquerda e, se possível, provocar um segundo turno", disse. (As informações do A Tarde)
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