O papa Francisco exortou os 19 novos cardeais da Igreja Católica, que ganharam neste sábado (22) o barrete vermelho no primeiro Consistório Cardinalício de seu pontificado, a se engajar nas lutas contra a discriminação, inclusive contra todos os perseguidos por sua fé, independente da religião, e em favor dos cristãos afetados pela violência e pela guerra. Em pronunciamento marcado por tom social na Basílica de São Pedro, o pontífice pediu o empenho dos novos chefes religiosos - 16 cardeais-eleitores e três eméritos, com mais de 80 anos - para que orem “pelo bom caminho de Cristo”. Francisco pediu que os novos cardeais - um deles é o arcebispo do Rio, D. Orani João Tempesta - se deixem convocar por Jesus.
O papa emérito Bento XVI, que renunciou ao posto há um ano, participou da cerimônia e foi aplaudido. “A Igreja precisa da vossa compaixão, sobretudo neste momento de tribulação e sofrimento em tantos países do mundo”, afirmou Francisco. “Queremos exprimir a nossa proximidade espiritual às comunidades eclesiais e a todos os cristãos que sofrem discriminações e perseguições. A Igreja precisa da nossa oração em favor deles, para que sejam fortes na fé e saibam reagir ao mal com o bem. E esta nossa oração estende-se a todo homem e mulher que sofre injustiça por causa de suas convicções religiosas.” Pré-candidatos à reeleição, a presidente Dilma Rousseff e o vice-governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, acompanharam a solenidade, assim como o presidente da Assembleia do Rio, Paulo Melo (PMDB), e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Jose Dias Toffoli. Todos foram cumprimentar D. Orani. Um dos símbolos da pregação do papa em favor dos perseguidos estava sentado a poucos metros dele.
Era Chibly Langlois, negro, bispo de Les Cayes, Haiti, com pouco mais de 55 anos - e o mais jovem da turma - e que será o primeiro cardeal da história do mais pobre país das Américas. No ano passado, como presidente da Conferência Episcopal haitiana, expressou a contrariedade da entidade com a decisão do Tribunal Constitucional da vizinha República Dominicana, que declarou que descendentes de haitianos não teriam direito à cidadania dominicana. Em nota, sem falar no país fronteiriço, a organização religiosa comparou as perseguições aos migrantes de seu país aos sofrimentos vividos pelo próprio Cristo. Com o Estado destruído e arrasado por um terremoto, o Haiti tem gerado milhares de imigrantes. A maioria dos novos cardeais vem de países da América Latina, Ásia e África e é formada por lideres religiosos ligados a dioceses, não a cargos na Cúria e na burocracia da Igreja.
No penúltimo Consistório Cardinalício do pontificado de Bento XVI, em fevereiro de 2012, a predominância de escolhidos com perfil europeu e burocrata gerou mal-estar, que levou o pontífice a convocar outro consistório para novembro do mesmo ano. “Foi uma cerimônia muito bonita e já com a marca do nosso papa Francisco”, disse o cardeal brasileiro João Braz de Avis. “Alguns mais ou menos já estavam previstos, mas me parece que ele (o papa) cuidou também de uma certa internacionalidade, também de alguns países da África e da America Latina que não estávamos acostumados a ter cardeais”. Para D. João, a tendência de abrir mais postos entre os cardeais para países não-europeus vinha de outros papados, mas “vai se acentuar um pouquinho”. “A Europa passa por uma crise de fé muito grande. Aqui, o papa Bento falava de cansaço da fé. É uma coisa que estamos tentando entender o que esta havendo.”
A presidente Dilma abraçou D. Orani, mas não quis dar entrevista e retirou-se diante da aproximação de repórteres. Em tom de brincadeira, ela relatou ter encontrado com um religioso que lhe disse ser um segundo cardeal brasileiro, apesar de ser italiano, por ter sido núncio apostólico no Brasil. A presidente estava acompanhada pelo secretario-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, e pelos ministros das Relações Exteriores, Luis Fernando Figueiredo, e da Comunicação Social, Thomas Traumann, além do assessor especial Marco Aurélio Garcia. “É uma responsabilidade a mais e ao mesmo tempo o Brasil prestigiado”, disse já de barrete e anel de cardeal um sorridente Dom Orani, cumprimentado pela emocionada irmã, Ondina, e pela prima Sueli e pela sobrinha Aline. “Vou à Igreja quando posso”, confessou Ondina, que se disse “relativamente” religiosa, mas lacrimejava ao abraçar o irmão. (As informações do Estadão)
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